O canto da sereia não é tão assustador assim
por Barbara DemerovO diretor russo Svyatoslav Podgaevskiy repete a mesma fórmula utilizada em A Noiva para entregar o que se encontra em A Sereia - Lago dos Mortos: um terror que mistura clichês do gênero e que se preocupa mais nos sustos do que com a potência da própria história. Logo, a boa condução de cenas e da montagem não se mantém firmes diante do conto desta lenda russa, cuja "ninfa da água" não passa de um fantasma aquático sedento por vingança.
Se por um lado é bem curioso conferir obras recentes fora do circuito norte-americano cujo propulsor é o terror (especialmente uma produção russa, como é o caso), do outro é inegável notar que A Sereia possui os mesmos estereótipos do gênero – desde sua estrutura até as escolhas absurdas que os personagens tomam. Sem se preocupar muito em expor os detalhes da lenda eslava que inspira o filme, chamada Rusalka, a história é focada no drama de um casal de noivos que acaba por ser duramente perseguido pela entidade. O noivo (Efim Petrunin) é o filho de alguém que há 20 anos também foi amaldiçoado com o encanto da sereia, e a noiva (Viktoriya Agalakova) é a vítima que se transforma na personagem que toma a maioria das atitudes diante da inusitada situação.
Na verdade, boa parte dessas atitudes não fazem nenhum sentido. O roteiro é acelerado e muito básico diante dessa uma lenda antiga que, certamente, teria muito mais a entregar além de breves sustos. O nonsense também é um dos principais fatores que tornam o enredo monótono e sem inovações, principalmente se pensarmos que outros dois personagens (a irmã e o melhor amigo do noivo) participam ativamente da história a partir do momento em que o protagonista recebe de "herança" a antiga cabana da família.
Não há muitas explicações: o filme simplesmente nos leva até a cabana na mesma velocidade com que apresenta uma briga insossa do jovem casal. As poucas informações que recebemos são dadas via diálogos rápidos e sem muito fundamento, inviabilizando o terror e abrindo portas para um pânico que não alarma ninguém além dos personagens em tela.
A mitologia da "ninfa", portanto, fica extremamente vazia. Enquanto a trama se desloca para a cabana isolada próxima ao lago, a assombração permanece assustando o quarteto, tornando-se até onipresente. Os cortes entre um personagem e outro, sempre juntos da presença da vilã, vão se tornando cada vez mais frequentes e rápidos, o que tira boa parte dos sustos pois sempre é esperado que ela apareça (especialmente pelo fato da protagonista se separar do grupo inúmeras vezes).
A dificuldade do diretor em assustar não se dá nem pela estética, que é bem caprichosa na maquiagem e no jogo de luz, e nem pela montagem, que também é bem executada. O problema é justamente esse vazio que permanece ao redor d'a sereia, cuja motivação é brevemente explicada próximo ao desfecho de forma preguiçosa.
A Sereia é uma vítima dos próprios sustos e da própria história que busca contar. Além do apelo a clichês fáceis em seu terceiro ato (como rituais sem pé nem cabeça), a imersão do filme torna-se bem prejudicada devido às cópias estarem dubladas em inglês, o que só faz com que este material com potencial para se diferenciar seja apenas uma variação de tudo aquilo que já conhecemos e já vimos no cinema.