Midsommar
"Midsommar" é escrito e dirigido por Ari Aster, sendo uma produção da A24 estúdio e foi lançado em 2019. O filme segue o casal disfuncional Dani e Christian, interpretados por Florence Pugh e Jack Reynor, enquanto viajam até uma ilha remota na Suécia para um festival de verão que ocorre uma vez a cada 90 anos. Lá, eles descobrem que os moradores do local escondem segredos e rituais perturbadores.
Ari Aster foi um diretor que me deixou completamente impactado em 2018 com a excelente obra-prima, "Hereditário". Um longa de terror psicológico, sobrenatural, sombrio, que se destacou como um filme que foge do trivialismo moderno dos jumpscare, e resgatou aquele gênero intrigante e perturbador que havia se perdido nos filmes de terror atual.
Dessa vez Ari Aster nos traz um terror folclórico que navega diretamente no drama, no mistério, com uma boa pitada do suspense, porém, sem deixar de lado aquele terror psicológico, que está diretamente relacionado ao sobrenatural, que nos aflige com o temor e a ameaça do perigo e da aflição. Por outro lado Aster ainda nos imergi no horror, nos confrontando diretamente com uma repulsa à um algo grotesco, oculto, sombrio, nos envolvendo em uma violência sangrenta com rituais satânicos e suicidas, com cadáveres e pedaços de corpos desmembrados - completamente bizarro!
Em "Hereditário", Aster utilizou uma temática sombria, obscura, soturna, gótica, em praticamente 100% do filme. Já em "Midsommar" ele nos traz um contraponto interessantíssimo ao nos confrontar com um ambiente totalmente imergido em um tom primaveril, com um cenário florido, colorido, vivo, alegre, divertido, que nos transmitia uma paz e uma leveza de um retiro espiritual. Por outro lado, todo este encantamento esconde algo surreal, imaginário, lúdico, ao nos confrontar com a beleza de um cenário primaveril com um festival de culto pagão escandinavo.
Este é o ponto de maior destaque no roteiro de Ari Aster, pois temos a primeira hora do filme totalmente voltada para a apresentação da personagem Dani (Florence Pugh), uma jovem estudante de psicologia que sofre um grande trauma familiar. O roteiro segue nos apresentando os seus personagens em meio às suas histórias, e nos evidenciando sobre o relacionamento conturbado e desgastado de Dani e Christian (Jack Reynor), ou seja, a primeira hora do filme prepara muito bem todo o terreno para o que virá a seguir. E o que vem a seguir é exatamente um roteiro que joga com as nossas expectativas o tempo todo, misturando imagens encantadoras da natureza com cenas brutais de terror psicológico e até gore. Somos impactados pela beleza de um lugar e o espírito acolhedor de uma comunidade que contrasta diretamente com seus rituais sanguinários, pois temos um ritual de suicídio, um ritual de acasalamento perturbador, uma coroação sinistra, juntamente com traições e assassinatos.
Florence Pugh é uma atriz jovem, bela, muito talentosa, que já nos entregou ótimos trabalhos como em "Adoráveis Mulheres" e "Viúva Negra", e ainda estrelará o elenco de "Oppenheimer", do Nolan, e "Duna: Parte Dois", do Villeneuve. Aqui Florence nos traz uma personagem que contrasta com o sofrimento e a felicidade, com a dor do seu trauma familiar e um conturbado relacionamento amoroso, ou seja, uma personagem que vive de remorsos e esperanças, que viaja para a Suécia em busca de uma paz espiritual depois de tudo que ocorreu em sua vida. Florence Pugh está perfeita em sua atuação, ela consegue transparecer todo o seu sofrimento e agonia juntamente com um sorriso feliz e esperançoso. Aquela cena inicial que ela chora desesperadamente pelo o que tinha acabado de acontecer é uma aula de atuação, feito com uma maestria impecável.
Jack Reynor (What Richard Did) tem uma química com a Florence Pugh em até certo ponto funcional, dado a todos os acontecimentos que eles se envolveram, ele também consegue segurar seu personagem, principalmente no último ato do filme, onde eu acho que ele entregou tudo que podia, porém é uma atuação apenas ok, daquelas que não se destaca mas também não chega a comprometer.
O elenco do grupo de amigos, que era composto por William Jackson Harper como Josh, Will Poulter como Mark e Vilhelm Blomgren como Pelle, estão ok, cumprem apenas as suas respectivas funções e nada além.
Tecnicamente o longa de Ari Aster é impecável.
Temos uma fotografia maravilhosa, prazerosa, estonteante, que se destaca em 100% das cenas, principalmente naquele ambiente primaveril, que possuía um contraste de cores vivas e vibrantes. A trilha sonora, composta pelo músico eletrônico britânico Bobby Krlic, é inspirada na música folclórica nórdica, e funcionou perfeitamente, casou muito bem com todos os acontecimentos que permeava a trama, uma trilha sonora uníssona. A direção de Ari Aster é muito competente, um trabalho de câmera impecável, que nos dava a exata dimensão de cada cena, cada acontecimento, com enquadramentos onde a câmera rodeava os personagens como se tivesse vida própria - sensacional! A direção de arte é muito bem feita, a cenografia é impecável, uma ótima montagem, uma ótima edição, uma ótima ambientação - realmente um grande trabalho técnico e artístico!
Não poderia deixar de mencionar o significado do título do filme - 'Midsommar' ou 'Midsummer' - que significa “solstício de verão”, celebração do meio do verão e é um dos principais feriados suecos. Acredita-se que o solstício é comemorado desde a idade da pedra, uma celebração pagã que a igreja cristã adaptou a seus modos para não precisar eliminá-los.
Ari Aster nos entrega mais um trabalho competente, primoroso, genial, conseguindo manter o nível do seu trabalho anterior e não descambar para o terror trivial e o clichê moderno - o quê pra mim já conta muito em sua pequena carreira cinematográfica. "Midsommar" é mais um filme que entra em minha lista como um ótimo terror psicológico e sobrenatural, que ainda mistura uma antropologia cultural com um final tragicômico - sensacional!
Parabéns Ari Aster, você acertou de novo. [23/07/2022]