Trocando a fantasia sem perder a essência
por Barbara DemerovPor mais sucesso que as adaptações fiéis de princesas da Disney no cinema (como A Bela e a Fera) façam, é certo dizer que releituras também são bem vistas. Malévola é um ótimo exemplo da reestruturação de um elemento que, no mundo da fantasia, sempre foi essencial: a busca por um príncipe e a ajuda que ele pode oferecer à princesa. O live-action de A Bela Adormecida conta com uma mudança radical na resolução da trama, quando vemos a própria Malévola dando o beijo com outro tipo de amor - o fraternal - que a jovem princesa tanto precisa para despertar. Para Maisa, que encarna uma versão atual de Cinderela, nenhum beijo é preciso num primeiro momento: a jovem sabe muito bem o que quer atingir na vida, e é num local bem distante da busca por um amor que a história de Cinderela Pop começa.
Atualizar um conto clássico amado por muitos e modificar parte do que é tradicional não deixa de ser uma tarefa difícil, mas o longa não só consegue atualizar a mensagem que a princesa emana há muito tempo como também a aproveita para falar sobre temas atuais e importantes, tais como o amor próprio. Ao tornar Cintia Dorella uma versão abrasileirada da gata borralheira sem boa parte de sua personalidade tímida, além de reverter seu lado sonhador para o âmbito profissional, Cinderela Pop ganha uma cara própria que esbanja simpatia.
O elenco composto por Maisa, Fernanda Paes Leme, Filipe Bragança, Marcelo Valle e Giovanna Grigio está muito bem alinhado e entrosado, o que rende boas risadas e diversão quase que a todo o momento. Fernanda brilha como a madrastra, enquanto Maisa se encontra mais solta e natural do que em Tudo por um Popstar. O roteiro flui sem muitos percalços até mesmo quando se aproxima um pouco mais do conto original. Há situações mais absurdas dentro do contexto realístico apresentado, mas elas não chegam a atrapalhar o ritmo nem a performance dos atores.
Se por um lado a animação e o live-action da Disney de Cinderela são bem românticos, Cinderela Pop caminha mais para o lado da independência. É muito bom ver filmes focados no público jovem que se preocupam em deixar claro que a moça não precisa procurar por um amor para ser plenamente feliz. No filme, isto acontece com a mãe de Cintia, com a tia e com a própria protagonista, mas também não rebaixa o personagem de Bragança, Fredy Prince, de patamar. Ao contrário de Cintia, é ele quem está na busca pelo amor através de sua carreira como músico e que, com a ajuda da amiga Belinha (Grigio), tenta obstruir as dificuldades que aparecem. Como a vocação da protagonista é ser DJ, é justamente a música que os une. A modernização do conto funciona principalmente nos detalhes que o roteiro dá.
Com boa direção e bom aproveitamento da fotografia colorida e teen, o filme de Bruno Garotti transmite uma energia diferente da que é exibida em Tudo por um Popstar: apesar de ser baseado num conto de fadas, consegue ser mais realístico do que a história sobre um grupo de jovens atrás de seu maior ídolo. O motivo? Por inserir nas entrelinhas ações e pensamentos que já fazem parte do mundo atual sem tirar o sapatinho perdido do caminho.