Horror com toques folclóricos
por Barbara DemerovApós conquistar o público amante de horror em 2015 com As Fábulas Negras, o diretor Rodrigo Aragão se encontra em seu quinto longa-metragem e utiliza ainda mais a mistura de elementos gore e fantasiosos a fim de proporcionar uma viagem completa. Curiosamente, tanto As Fábulas Negras quanto A Mata Negra foram exibidos no Festival de Vitória – sendo o segundo o recente responsável por muitos aplausos antes, durante e após a sessão.
É interessante observar que, por mais que o terror sempre tenha sido um gênero amplamente conhecido mundo afora, no Brasil a realidade é outra: a descrença de que nosso país não faz filmes interessantes ou competentes é forte, ainda mais quando a observação cai para o trash, o horror. É por isso que é mais do que necessário abrir a mente para conferir obras como as de Aragão, que possui entendimento o suficiente para construir histórias coesas e que ainda homenageiam nossa cultura.
A Mata Negra é nada mais, nada menos, que uma história movida pelo amor e a busca pela felicidade. Clara (Carol Aragão, filha do diretor) é uma menina que encontra o Livro Perdido de Cipriano na mata em que mora e, a partir daí, se vê numa grande teia de aranha. Tudo começa quando ela se apaixona por um rapaz de sua vizinhança e almeja salvá-lo acima de qualquer coisa – mesmo que se envolva em situações terríveis para uma menina de sua idade.
Sozinha, com medo mas também com vontade de ser feliz, Clara não enxerga o mal que pode liberar ao utilizar o Livro Perdido e suas atitudes vão desenvolvendo mais perspectivas ao plano geral. A atuação da atriz mirim convence por sua vivacidade e é o guia para esta aventura recheada de cores, detalhes e simbolismos.
Do mesmo modo em que a filha surpreende, o pai também não desaponta ao demonstrar habilidade no seu toque de mover a narrativa. Por mais trash que seja, a trama avança sem se atrapalhar ou impossibilitar a aproximação dessa viagem. No fim, o que poderiam ser apenas exageros acabam ajudando na empatia para com a história. O importante, assim como é para qualquer história fantástica, é se deixar envolver pelo clima apresentado.
A qualidade técnica de A Mata Negra segue o padrão de Aragão em seus trabalhos: vale observar bem o trabalho de maquiagem e dos efeitos práticos, que são um show à parte e dão aquele toque irresistível de cinema fantástico. O estilo lírico também se faz presente e é espelhado na protagonista, que evoca inocência e determinação nas medidas certas.
Sem perder a chance de divertir com momentos despretensiosos e fazendo o aproveitamento de uma trama séria e consistente, A Mata Negra mostra que o trash cai bem e que, de uma vez por todas, deveria ser mais valorizado pelo público; principalmente àqueles que já consomem Wes Craven, Sam Raimi, John Carpenter e Eli Roth.
Filme visto no 25º Festival de Vitória, em setembro de 2018.