Após terminar com o Coringa, Arlequina (Margot Robbie) precisa despistar inúmeros mercenários que estão atrás dela. Paralelo a isso, Roman Siones coloca a cabeça de Cassandra Cain a prêmio, por ter roubado um precioso diamante, assim, entrelaçando os destinos de Renee Montoya, Dinah Lance e Helena Bertinelle, as Aves de Rapina.
A até então desconhecida diretora, Cathy Yan, ao assumir um projeto de tamanha expressão, tinha difíceis obstáculos dos quais precisava contornar. Um deles era a herança ingrata de Esquadrão Suicida, extremamente criticado. Durante os dez a quinze minutos iniciais, percebe-se que a produção não nega suas origens, emulando a fotografia de seu antecessor pelos contrastes entre o sombrio e as cores vibrantes de uma Gotham City estilizada. No entanto, assim como sua protagonista, o filme se emancipa desta responsabilidade, se libertando para, a partir deste momento, apresentar a sua própria linguagem.
A narrativa opta por abordagem frenética, juntamente com voice overs oferecendo todo contexto que o público precisava para se situar. Entretanto, o roteiro se perde em seu estilo quando abusa de flashbacks. Há muitas idas e vindas na história, algo que não foi bem resolvido pela montagem, já que há momentos extremamente dinâmicos, e outros excessivamente arrastados, prejudicando o ritmo do filme e embaralhando as diversas linhas narrativas apresentadas.
Dentre as vilãs, anti-heroínas e heroínas, todas tem suas motivações relativamente bem trabalhadas, mesmo que em momento algum isso seja aprofundado. Com exceção da personagem da Margot Robbie, que como a grande figura promocional do longa, é natural que ela tenha maior destaque, e a atriz, em colaboração com o roteiro, injeta suficientes camadas de personalidade. Assim como a Canário Negro de Jurnee Smollett-Bell, que possui presença de cena com seu carisma, e ainda oferece cinismo e um senso de justiça turvo à heroína.
Por outro lado, Renee Montoya (Rosie Perez) não tem o mesmo engajamento do público, não por falta de esforços da atriz, que está comprometida, mas pela falta de criatividade do roteiro em trabalhá-la, tornando-a indiferente para o espectador. Ella Jay Basco como Cassandra Cain possui uma fofura perigosa, mas também não é uma personagem que tenha muito a oferecer. Já para a Caçadora, da excelente Mary Elizabeth Winstead, faltou tempo em cena. Sua presença misteriosa instiga, mas seu desenvolvimento acaba por ser colocado de qualquer jeito no final do segundo ato. Ewan McGregor como o vilão Máscara Negra escolhe um caminho solto. Ele é expansivo e cheio de pequenas manias, egocêntrico, controlador, e caricato, o que casa bem com a proposta da produção. Sua relação com o capanga Victor Zsasz possui muita química, e uma tensão quase sexual entre eles.
As sequências de ação são bem dirigidas, houve refilmagens pelo comando do diretor Chad Stahelski de John Wick, então as coreografias são ótimas e o trabalho de câmera as realça, dando identidade para as lutas e até mesmo na estratégia de combate utilizada pelas personagens. O design de produção retrata Gotham de maneira interessante, ao mesmo tempo em que é suja e negligenciada, também é ensolarada e caótica, com elementos psicodélicos bem vindos, e ainda no terceiro se transporta para a cidade obscura e gótica que conhecemos. Mesmo com essas qualidades técnicas, há de se dizer que a diretora não transmitiu um estilo próprio, em momento algum pode-se dizer que é uma direção fortemente autoral, Cathy Yan não conseguiu dar a sua identidade, enquanto chefe criativa.
Aves de Rapina não nega suas origens, possui na figura da Arlequina uma fortíssima protagonista, que ao lado do vilão são os pilares da produção. Esta, que se confunde e ao espectador com suas linhas narrativas atrapalhadas e a edição sem ritmo, mas que termina num tom agradável, por conta de acertar no valor de entretenimento.