Imagine que você esteja preso em uma ilha da qual é impossível escapar. Agora imagine que essa ilha é o seu próprio corpo. Você se olha ao espelho e ele reflete alguém que você não reconhece. Pronto. Conseguiu entender o sentimento e as emoções com que vai se deparar ao ver "Girl", estreia de Lukas Dhont na direção e de Victor Polster na atuação. Ambas ótimas. A fotografia é clara e luminosa, mesmo em momentos de tensão. Não há concessões ao sentimentalismo barato na atuação contida, com as emoções todas aparentes nas alterações mínimas das expressões do rosto. A opção pela proximidade do registro, sempre privilegiando a face, resulta em uma razoável monotonia. O filme não se furta em mostrar momentos da mais pura maldade humana, como o que faz uma das amigas de Lara, ou de impaciência e exigências descabidas, como no caso do pai dela, embora na maior parte do tempo seja um grande companheiro.