Uma bela e honesta homenagem
por Barbara DemerovFiguras brasileiras que estenderam suas marcas para além das telas, alcançando assim o auge dentro de nossa história cinematográfica, merecem ser lembradas de diferentes formas. No caso do ator e diretor Hugo Carvana, a homenagem vem em formato de um documentário que relembra seus 60 anos de carreira. Sob a direção de Lulu Corrêa, que foi sua amiga e diretora-assistente em alguns projetos, Carvana é, antes de mais nada, um livro de lembranças que passeia por inúmeros trabalhos para as telinhas e para as telonas.
Tendo como base uma entrevista feita com Hugo Carvana meses antes dele falecer, o documentário não hesita em aproveitar bem o material de arquivo que possui - seja com imagens disponibilizadas pelo acervo de Glauber Rocha até aos vários momentos de Hugo em ação nos sets de filmagens. Sempre exalando bom humor e um tom jovial, Hugo é retratado com muito carinho pela sua diretora e pode ser visto demonstrando o quanto amava o que fazia na frente e atrás das câmeras.
Apesar de ser um bom projeto que prima por observar o passado a fim de demarcar bem a importância de sua presença no cenário cultural nacional, Carvana possui uma estrutura linear que segue o modelo padrão, sem tantas delongas ou ferramentas que levem a um direcionamento mais pessoal. Por levar toda a atenção aos registros, o documentário não se aprofunda em nenhum momento específico da vida de Hugo - fato que não prejudica totalmente o resultado, mas evita um maior conhecimento da figura atrás de toda sua conhecida "malandragem" carioca.
No entanto, a bela apresentação de sua extensa carreira é realmente o necessário para levar o espectador a uma viagem carinhosa. Mesmo que não explane os momentos difíceis de sua carreira, que com certeza existiram, Carvana é um documentário essencial para sabermos quem foi Hugo, com a narração de sua marcante voz.
Desde a década de 50 às novelas de televisão, Hugo Carvana mergulhou em diferentes gêneros e fez seu nome dentro do Cinema Novo, assim como na chanchada. Ele acaba sendo o narrador de sua própria história não somente com a entrevista feita pouco antes de seu falecimento mas também com passagens que vão a partir da década de 70. Seu bom-humor permeia por toda a narrativa e pontua seu lado extrovertido que, como bem mostra a obra, se transferia para muito além do "gravando" e "corta".