Processo de descoberta
por Barbara DemerovO cenário para esta história de autodescoberta de uma jovem garota de família tradicional não poderia ser mais interessante e irônico: uma escola religiosa que ensina aos seus alunos o quão errado é iniciar a vida sexual antes do casamento. Correndo totalmente na direção contrária a essa doutrina rigorosa da instituição - que começa desde a observação do tamanho das saias das alunas e vai até a repreensão do padre/professor -, a protagonista Alice (Natalia Dyer) se encontra num misto de receio e fascínio ao conhecer um lado oculto de sua personalidade.
Em Yes, God, Yes, o chamado da sexualidade na adolescência acontece de forma até cômica, mas é válido perceber como o filme dirigido por Karen Maine transmite as contradições da religião católica, que sempre prega por aceitação e respeito mútuo entre as pessoas. Mas, quando Alice passa a se questionar e procura por conselhos que possam lhe ajudar a entender o que está acontecendo com si mesma, a jovem não encontra uma única fonte de acolhimento para se abrir.
Mesmo assim, o filme não perde seu tom cômico com as críticas que se escondem em meio à atmosfera de uma produção coming of age (estilo de filme que aborda as mudanças na adolescência). Natalia Dyer entrega uma performance carismática, cujo desenvolvimento fica bastante claro quando comparamos como Alice era no início do filme e como ela encerra (ou começa) sua história. Sua convicção e amor próprio tardam a aparecer, mas o trajeto até a garota apreciar de verdade suas vontades íntimas é cômico e real na medida certa.
Por sua curta duração, Yes, God, Yes possui uma narrativa concisa e que não dá voltas para reforçar o mesmo ponto mais de uma vez. Contando com uma protagonista delicada e com muita presença - além do suporte de um elenco secundário que compra a ideia inusitada de abordar um tema sério com elementos "nonsense" -, o filme entrega um resultado divertido. Porém, o mesmo roteiro que entretém poderia dar mais atenção à hipocrisia que cerca Alice. Em uma das últimas cenas, o diálogo da jovem com o padre Murphy (Timothy Simons) resume o objetivo da diretora, mas ainda assim falta a sensação de um fechamento mais definido.
Acompanhando a jornada de Alice é possível sentir a ausência de uma trama de fundo mais complexa ou até com mais detalhes que possam trazer um panorama maior. Já que o roteiro prioriza suas relações com amigos, o modo como reage a boatos sexuais e as dinâmicas num retiro católico, pouco sabemos sobre a vida de Alice fora da escola. Se por um lado isso é bom para trazer mais foco a uma história que funciona pela objetividade e tempo presente, por outro o exagero (elemento proposital para amplificar a ironia) não parece funcionar a todo o momento. No fim das contas, Yes, God, Yes se encontra num meio termo de provocação e sutileza que não aumenta nem diminui sua posição de filme teen.