Trem das Vidas ou A Viagem de Angélique: Crítica AdoroCinema

Angélique (Astrid Adverbe) é uma mulher que vive sua vida do modo que almeja, ou seja: livremente. Ela viaja muito, o que a possibilita pensar mais sobre sua vida e ampliar suas opiniões com as pessoas com quem conversa – mesmo que de dentro de um vagão em movimento. Como espectadores, vemos diferentes fases da vida de Angélique, cuja face permanece a mesma através dos anos. Sem uma única mudança nos traços, a única coisa que vemos é a mudança em seu semblante.

O diretor Paul Vecchiali (que também atua no longa) mantém sua câmera de frente para Angélique e para os demais personagens pelos quais a protagonista nutre algum tipo de relação; seja ela banal ou intensa, curta ou longa, todos os diálogos são importantes para entendermos a mulher e seus anseios.  

Cada paisagem exibida nas janelas representa alguma mudança na vida de Angélique, que mostra grande incômodo ao relatar como seu comportamento sexual a afeta na vida pessoal, seja em relacionamentos próximos ou dentro de sua própria consciência. Com diversas passagens de tempo, seus desabafos e diálogos (com a amiga, a sogra ou com o próprio marido) são intercalados por momentos que demonstram mais fragilidade e outros que exprimem uma grande insatisfação por suas escolhas. Tal insatisfação nunca vem de si mesma, mas sim do julgamento dos outros e do que eles podem resultar.

Trem das Vidas ou A Viagem de Angélique propõe uma reflexão ao que é "certo" ou "errado" na vida de uma mulher, mas também representa uma coleção de memórias de sua trajetória. É possível se sentir como que dando um mergulho em cada sentimento ou situação narrada por Angélique, e, por mais que existam muitos diálogos contando histórias diversas, sem nenhuma cena para ilustrar, o vagão de trem já é o cenário necessário para imaginarmos seu presente, passado e futuro.