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    A Garota na Névoa
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    A Garota na Névoa

    Atravessando a cortina de fumaça

    por Barbara Demerov

    Logo em suas primeiras cenas, a câmera passeia por uma cidade em miniatura, como se o verdadeiro local estivesse sendo observado por algo muito maior. Tal impressão se mantém ao longo de A Garota na Névoa, nos fazendo pensar que a cidade e seus moradores são incapazes de resolver seus próprios mistérios. A sensação de que todos são marionetes do passado (e também do presente) perante aos twists também recai sob o protagonista, o agente Vogel (Toni Servillo), que supostamente seria aquele que tiraria todas as dúvidas. No entanto, vamos observando uma série de idas e vindas em meio a um caso de desaparecimento que simboliza algo muito maior, tão surpreendente quanto assustador.

    Adaptado de um best-seller, o filme abraça seu tom de suspense desde a fotografia até a trilha-sonora e entrega como resultado um ótimo thriller. O diretor Donato Carrisi, autor da obra original, aproveita todos os elementos de seu enredo (que vão desde o desaparecimento de uma jovem, os detalhes do trabalho de Vogel até a dinâmica familiar do principal suspeito) para criar uma aura turva, mesclando a atenção entre os personagens de Vogel e Loris (Alessio Boni, o professor suspeito), por mais que o agente de investigação seja o protagonista.

    A Garota na Névoa possui um roteiro que entrega as informações aos poucos. Sendo assim, é possível sentir que os personagens estão sempre à frente do espectador - que pode não entender tudo de imediato mas certamente já é inserido para dentro daquele universo angustiante. Não é possível saber mais do que é exposto em tela e isso torna a experiência muito rica em suspense e drama. A boa direção de Carrisi dosa os momentos informativos e os que entregam apenas dúvida, valorizando a atenção que precisa ser dada a cada diálogo ou cena de plano mais aberto. É inevitável deixar passar alguns mínimos detalhes, mas eles estão tão interligados com o todo que, ao fim da história, podem vir à mente, se encaixando como uma luva.

    Toni Servillo (A Grande Beleza) está muito confortável no papel de um investigador que preza mais pelo espetáculo midiático que cerca seus casos do que pela solução dos mesmos. O roteiro vai apresentando suas facetas e também como ele já lidou com seu trabalho no passado, optando pelo caminho mais fácil em busca do mérito e apoiando-se na ajuda de outras pessoas (como jornalistas) além da polícia. No entanto, ao mesmo tempo em que quer manter sua imagem, sua vontade de entender o que se passa no misterioso caso da jovem Anna Lou (Ekaterina Buscemi) o impede de se manter distante, e assim ele vai seguindo um caminho tortuoso em busca de soluções.

    Se por um lado sabemos bem quem Vogel é, do outro se encontra Loris, que possui muitas camadas a serem descobertas e é o principal elemento que o suspense mais desfruta. Alessio Boni entrega uma performance instigante e ganha boa parte da atenção entre o segundo e terceiro ato, que circula pelo desaparecimento e seus efeitos, assim como no conflito entre Vogel e Loris. As informações vão lentamente chegando à superfície e nunca soam cansativas, pois os desdobramentos vão ficando cada vez mais inquietantes e difíceis de serem colocados de lado.

    No maior estilo noir e hollywoodiano, A Garota na Névoa não trata apenas de uma garota que desaparece na neblina das montanhas. Este é um filme sobre ego, ganância e, principalmente, sobre a importância de olhar duas vezes e ouvir com total atenção. Estes dois últimos fatores são necessários para solucionar os mistérios da história mas, mesmo que isso não seja possível, ninguém sai perdendo: o desfecho impressiona pela consistência do quebra-cabeças apresentado e soluciona tudo sem deixar pontas soltas. O que fica é apenas a surpresa.

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