De todos os subgêneros do cinema, os filmes de esporte costumam ser os mais motivadores e inspiradores. Exemplos vêm de todas as áreas do esporte: basquete, baseball, futebol americano, boxe, hockey e etc. A superação, com seus personagens sendo submetidos a confrontação dos seus maiores medos e tragédias. A transformação, onde através de poderosas descobertas interiores, o protagonista corrige e aprende com seus piores defeitos. O sacrifício, na busca pela sobrevivência e ultrapassando limites rumo ao seu destino.
Este mês um grande drama esportivo completa 15 anos de seu lançamento aqui no Brasil. “Um Domingo Qualquer”, do diretor Oliver Stone é quase que uma sátira do dia-a-dia nos bastidores de uma equipe de futebol americano profissional, desde o funcionamento do departamento médico até a politicagem da diretoria do clube (para os norte-americanos, chamado de “franquia”). Mas também, é uma visão bastante plausível da vida pessoal e dilemas dos jogadores, treinadores e etc. O diretor propositalmente exagera na caracterização, nos inevitáveis clichês e nos inúmeros estereótipos que acercam a vida desses “gladiadores”, que é como o próprio filme faz uma analogia de si mesmo. O elenco do filme é algo espetacular: temos Al Pacino (dando um show como o treinador Tony D’Amato, pra variar), James Woods, Dennis Quaid, Cameron Diaz, Matthew Modine, Aaron Eckhart e o futuro vencedor do Oscar Jamie Foxx – em um papel que fora recusado pelo comediante Chris Tucker.
Ao longo de suas 2 horas e 36 minutos (Director's Cut), basicamente o filme começa quando uma lenda na história da liga (Quaid), quarterback do time (jogador que lidera e dita o ritmo da equipe em campo, aquele que dá o passe para os demais jogadores) sofre uma pancada devastadora em uma jogada e precisa sair do jogo para se recuperar por um mês. Então um jovem desconhecido (Foxx), reserva do reserva na posição é chamado para substituí-lo. Típico jogador arrogante, que nunca foi mais do que uma promessa por culpar o mundo por seus erros, Willie Beaman sabe o que aquela pode ser sua última chance, e aos poucos vai se adaptando à equipe. Com um talento inegável e personalidade forte, o jovem logo vira uma celebridade e peça fundamental na recuperação da equipe.
O antigo treinador Tony D'Amato (Pacino), pressionado pela diretora geral da franquia, então precisa reavaliar seus valores e estratégias testadas pelo tempo e começar a enfrentar o fato de que o jogo está mudado. Surge o dilema entre manter a lealdade pelo líder que a equipe segue, mesmo velho e sem ritmo ou tentar controlar o ego de uma estrela em ascensão, que provavelmente é o melhor jogador do país, apesar de não ter o apoio do restante da equipe. A jovem e agressiva Diretora e Co-proprietária da equipe (Diaz) sabe que sob o seu comando os Sharks ainda não conquistaram nada, seus dias de glória vieram apenas durante a gestão do seu falecido pai, amigo pessoal do treinador. Sendo assim, o desejo de Christina é provar a si mesma que pode ter sucesso em um mundo e em um cargo dominado por homens.
O sucesso de Um Domingo Qualquer está na riqueza de problemas, tramas, dilemas e etc. apresentados com extremo dinamismo, de forma que o filme passe sem que o espectador tenha dificuldades para absorver tanta informação apresentada. Fica a sensação de que há algo de verdadeiro naqueles personagens e - mesmo por vezes didáticos - as ótimas atuações do elenco e alguns diálogos muito bem escritos respeitam a inteligência do espectador.
Para um fã de filmes deste gênero, Oliver Stone consegue transmitir, através de cortes rápidos e closes que transmitem a intensidade emocional dos personagens, a sensação de estar dentro de campo. O esporte tem algo antagônico que mexe com nossa paixão e ódio em questão de segundos: para cada vencedor, há um perdedor; para cada conquista, uma decepção. Dentro daquela arena, os jogadores entram como guerreiros rumo à batalha. Frente a frente, cara a cara, vemos a garra, a determinação para ir além dos limites, defender, atacar, marcar, rir, chorar. E a cada temporada é sempre a mesma coisa, novas estrelas surgem, novos times vencem, novos torcedores se apaixonam, novas batalhas são travadas. Cada disputa, cada lágrima, cada minuto, cada segundo, cada polegada. Afinal, em um domingo qualquer, tudo pode acontecer...