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    Frankie
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Frankie

    A trégua do cotidiano

    por Bruno Carmelo

    Frankie parte de um dispositivo simplíssimo: uma viagem leva uma dezena de personagens até Portugal para se encontrarem com Françoise Crémont (Isabelle Huppert), vítima de um câncer terminal. Na chegada, eles caminham pelos arredores da bela cidade de Sintra, aos pares, enquanto conversam sobre seus amores, divórcios, problemas financeiros e planos para o futuro. A cada novo encontro, a imagem permanece fixa, com a dupla ocupando o quadro e conversando longamente, sem cortes. Não há barulhos por trás, nem interferência de outras pessoas. Como numa sessão de terapia, eles dispõem do tempo necessário para dizerem o que quiserem a interlocutores atentos.

    A abordagem soa arriscada por uma série de razões. O roteiro é extremamente dependente dos diálogos, e poderia se tornar enfadonho ou melodramático demais ao condicionar a existência dos personagens à proximidade da morte. No entanto, o diretor Ira Sachs conduz o projeto com uma leveza surpreendente. Por mais que o filme carregue a aparência de panfleto turístico em função dos constantes passeios a lugares paradisíacos, ele desperta uma importante variedade de interações, seja pelo encontro entre pessoas que se conhecem muito bem (mãe e filho, marido e esposa), ou por desconhecidos (a colega de Frankie e o filho desta, o turista e o guia). As línguas oscilam entre o inglês – americano e britânico -, o português e o francês, em trocas que vão da briga ao abraço fraterno, da provocação à discussão pragmática sobre direitos de sucessão. Não há muito tempo para lamentar: a morte constitui o tema sufocante sobre o qual ninguém discute.

    Para os atores, o dispositivo representa um belo presente. Livres em cena, com os corpos quase inteiramente visíveis, além dos longos diálogos em planos ininterruptos, eles podem explorar muito bem o jogo cênico, e o fazem com evidente prazer. Frankie conta com um elenco memorável, de estilos e origens distintas. Sachs parece ter se divertido ao combinar duplas improváveis como Isabelle Huppert e Marisa Tomei, ou Brendan Gleeson e Pascal Greggory. É surpreendente ver o que Gleeson é capaz de fazer com os silêncios contemplativos, ou perceber os recursos de Tomei em três cenas de desconforto. Os atores interpretam personagens de idades próximas às suas, sem a necessidade de amplos dispositivos cinematográficos, apenas a câmera e a paisagem. O despojamento favorece a entrega sem vaidades.

    A proposta do encontro antes da morte poderia ser taxada de sádica, mas o roteiro evita esta leitura ao sabotar a reunião propriamente dita. Sabemos que os personagens se encontrarão eventualmente, mas Sachs prefere se concentrar no momento de chegada, quando todos parecem perdidos em suas caminhadas, apenas desfrutando dos arredores antes das obrigações sociais enquanto convidados. De fato, Frankie retira dos personagens as responsabilidades cotidianas, as obrigações durante a estadia e os planos posteriores, liberando-os para flanar a gosto. Este é um instante de parêntese, uma suspensão do tempo. Em paralelo, o roteiro ostenta a preocupação democrática em deixar todo personagem falar e ser ouvido, garantindo que cada um tenha a sua cota de amor (por outros, ou amor próprio) ao longo da curta estadia. Mesmo assim, o tom permanece melancólico, efêmero, não apenas pela doença de Frankie, mas pela consciência de que aquela viagem possui pretensões modestas. Muitos personagens, aliás, sequer sabem o que fazem ali exatamente.

    A conclusão constituía um obstáculo particular. Por sua linearidade e pelo fato de a narrativa não conduzir seus personagens a um rumo preciso, o drama poderia terminar muito antes ou muito depois do ponto escolhido, sem grande prejuízo à narrativa. Como saber, então, quando interromper os passeios, e de que maneira fazê-lo? Ira Sachs encontra uma solução brilhante, mistura de reunião e desencontro, ou ainda uma comunhão solitária entre pessoas que não precisam dizer nada, pois sua presença constitui a mensagem necessária. A força plástica da última cena é impressionante, oferecendo um desfecho à altura não apenas do dispositivo ousado, mas também do material humano. Afinal, todas as viagens organizadas por uma dezena de pessoas, de países e origens diferentes, e todo o filme-preâmbulo serviram a proporcionar este breve instante. Valeu a pena.

    Filme visto no 72º Festival Internacional de Cinema de Cannes, em maio de 2019.

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    Comentários

    • António Lourenço
      Panfleto turistico, mal aproveitado, pois além das ruas ira não soube sequer explorar os lugares de maior beleza de Sintra, até utiliza o eléctrico duas vezes, sem sentido. Huppert passeia-se pelo filme, como uma múmia, até a cena de cama, repugna. Uma seca, dá a impressão que o realizador, está mal de finanças, vindo sacar aqui uns euros. Uma seca, temos sempre desejo de sair da sala.
    • Jonas_Caldwell
      Tem que ver o contexto do filme - no qual ela desempenha o papel de uma doente terminal ...
    • Isabelle
      Quais características fazem de Françoise uma personagem carismática e atraente, capaz de seduzir e atrair amores e fãs? Pela primeira vez, La Hupert fica nos devendo essa resposta e a responsabilidade não é apenas dela. Personagens sem substâncias e relações afetivas sem consistência em uma história sem interesse. Parece que o único motivador do diretor foi retratar a beleza de Sintra que, no entanto, parece fria e inóspita, apesar do justo reconhecimento às delícias locais. As cenas parecem não se articularem, assim como os roteiros percorridos a pé pelos personagens e o tempo das ações. Pior do que isso, só o diálogo ridículo dos adolescentes, antes da insípida e descontextualizada iniciação sexual. Filme chato, desperdiçou o talento de Hupert e a beleza de Sintra...
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