(Insta: @cinemacrica)
Todos são iguais perante a lei. Todos são iguais perante deus. Joana unifica de forma precisa essa condição humana: o regimento por normas. Funcionária de uma repartição pública responsável pelas documentações relacionadas a processos de divórcio, a protagonista é mais uma das fiéis da onda evangélica que se agiganta em 2027. Essa tendência é levada a patamares elevados pelo diretor Gabriel Mascaro. Em poucos minutos, há a sinalização de que a maior festa do país deixou de ser o Carnaval, a celebração mais popular é religiosa. É com essa abertura que o diretor, primeiramente, magnifica a doutrina cristã para então dissecá-la de forma ousada.
“Divino Amor” está longe de ser convencional. As proposições agressivas, ao menos, são merecedoras de respeito: há um notável trabalho provocativo associado à criatividade. A projeção do futuro em 2027, por exemplo, hiperboliza a religião a ponto de permitir que sua análise seja natural. Afinal, esse recurso expande em hábito cotidiano coletivo o que era recatado em nichos.
Ao emergir a prática do evangelho e associá-la não somente ao “Eu” consciente, mas também ao inconsciente, Mascaro não é econômico na abordagem crítica. A conveniência humana é um dos pontos explorados. Quando o amor é genuíno, a busca por algo maior é orgânica. Nesse caso, a banalização chega ao ponto da criação de boxes de oração drive thru. Além da crítica da busca por deus quando convém, são plásticas e fortes as cenas dos novos cultos religiosos. Permeados agora pelo instinto humano, o que traz para perto características de seitas, a experimentação sensorial transcende dinâmicas simples e avança ao sexo coletivo.
O desenvolvimento de alguns traços da personagem, entretanto, destoam em intensidade e criatividade. Numa das cenas, por exemplo, a debilidade da compaixão da protagonista recai sobre o abandono de uma caixa com filhotes de cachorro num parque.
Iluminado por tons neon, os planos poéticos que sintetizam a visão do futuro constroem uma atmosfera gospel-erótica. Ousado, agressivo, criativo, polêmico. É o meu tipo.