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    Loop
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Loop

    O problemático bem intencionado

    por Sarah Lyra

    De maneira geral, Loop é um filme que já vimos antes. Uma mistura de Efeito Borboleta com O Homem do Futuro, o longa de Bruno Bini se diferencia em alguns pontos, como ao adotar um tom mais depressivo e sombrio. O protagonista Daniel (Bruno Gagliasso), cuja força está especialmente na interação intimista com a irmã Simone (Branca Messina), carrega uma tristeza constante que em um primeiro momento parece vaga, mas aos poucos revela a dor profunda vivida pelo personagem. Gagliasso, inclusive, conscientemente ou não, exibe uma semelhança notável com o jovem Jake Gyllenhaal em Donnie Darko, desde seu cabelo bagunçado, ombros curvados e cabeça cabisbaixa até a melancolia característica do filme de Richard Kelly, isso sem mencionar que ambas as produções acompanham o drama de um rapaz que busca transitar no espaço-tempo para salvar a namorada.

    Ao contrário de O Homem do Futuro, no entanto, que faz questão de empregar elementos brasileiros em seu desenvolvimento — a música Somos Tão Jovens, do Legião Urbana, permear todo a trama é a prova disso —, Loop poderia facilmente se passar em qualquer cidade. Embora seja sinalizado que se trata do estado de Mato Grosso, mais especificamente Cuiabá, a localização não desempenha um papel específico na história, nem mesmo na ambientação. Não que isso seja necessariamente uma questão, pois não interfere no andamento da narrativa, mas ao mesmo tempo parece um desperdício não incluir uma referência sólida ao local, principalmente se levado em conta que não é comum assistirmos a filmes mais comerciais que se passam fora do sudeste.

    Loop, apesar de uma estética sólida apoiada em sua fotografia de tons verdes e azulados, além de enquadramentos desalinhados que passam a sensação de confusão e desequilíbrio da temática de viagem no tempo, apresenta dificuldades no roteiro. Inicialmente, porque a relação de Daniel e Maria Luiza (Bia Arantes) não é aprofundada o suficiente para compreendermos as nuances da obsessão do rapaz. Tampouco ficam claros os motivos do desgaste na relação, o que se torna ainda mais confuso quando o longa dá a entender que, apesar das dificuldades, a paixão entre os dois é tão grande que eles acabam sempre voltando um para o outro, como se, no próprio caos, eles se entendessem e se amassem. Por isso, é surpreendente notar como, no ato final, a produção é reducionista ao retratar o que, até então, parecia um grande amor, ao colocar Maria Luiza como uma mulher insensível que mal tem a disposição de oferecer explicações ao namorado — e o fato de ela se atrair por uma outra versão do mesmo personagem não minimiza a questão.

    Um outro problema do roteiro é criar regras e empecilhos bobos que acabam não fazendo sentido diante das consequências sofridas pelos personagens. "Você não pode jamais me contar que eu voltei", diz Daniel à Simone, sobre o fato de ter sido bem sucedido em sua empreitada de viajar no tempo. Ora, por que não? O protagonista explica que o compartilhamento dessa informação só trará complicações à vida de todos, o que é justo, mas, em um cenário onde ninguém tinha mais nada a perder, parece lógico ter a ajuda da irmã, uma apoiadora incondicional de todas as loucuras que ele propõe — um desperdício de Branca Messina, inclusive, que merecia mais aprofundamento em seu personagem —, o que pode finalmente colocá-lo na rota correta. Não é simplista e ingênuo demais se apoiar em uma única frase de efeito (“você precisa chegar mais cedo”) que nem ele mesmo consegue compreender? Por que deixar uma pista tão vaga para si mesmo se há uma possibilidade concreta de alterar os acontecimentos?

    Mas é, acima de tudo, na proposta de redenção de um personagem masculino, que, após matar acidentalmente a namorada, passa o resto da vida voltando no tempo para consertar o erro, que o filme realmente peca. Há duas questões extremamente problemáticas nessa escolha. Claro, o filme não é generoso com as consequências sofridas pelo personagem, fica evidente que ele passará o resto da vida preso nessa jornada sem sucesso. No entanto, Loop acaba romantizando o feminicídio praticado por Daniel ao colocá-lo como uma vítima das circunstâncias, quase como se estivesse dizendo que não foi culpa dele. O fato de ser acidental não torna a situação menos grave, principalmente se considerarmos que ele a empurra por causa de um término. Tudo funciona no sentido de entendermos este personagem, suas motivações, contradições e dores, o que inevitavelmente nos coloca ao lado dele, por mais problemático que isto seja.

    Em sua proposta de tornar Daniel um herói — e justiceiro, pois o projeto parece não ver problema em colocá-lo como um homem disposto a matar dezenas de pessoas para impedir crimes que ele considera moralmente inferiores —, Loop naturaliza a violência do homem sobre a mulher. Assim, ironicamente, quem fica preso a uma repetição é o próprio filme.

    Filme visto no 52º Festival de Brasília, em novembro de 2019.

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