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    Nosso Último Verão
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Nosso Último Verão

    Meus amores, meus estudos

    por Bruno Carmelo

    Às vésperas de iniciarem o curso superior, uma dezena de jovens tem apenas duas preocupações em mente: seus namoros e a faculdade que vão cursar. Os dois elementos estão diretamente interligados: os personagens pensam se vale a pena investir num romance quando o interesse amoroso estuda em outra cidade, imaginam se a vida universitária será de fato regada a festas e sexo, pensam no peso que a faculdade trará aos seus currículos e suas próximas conquistas amorosas. Para este grupo de americanos, é mais importante decidir o nome da faculdade cursada (Columbia, NYU, Berklee) do que o curso, que se torna secundário. 

    Em meio a tantos personagens deste filme coral, ninguém está interessado em qualquer elemento que não seja a si próprios. Griffin (K.J. Apa) e Phoebe (Maia Mitchell) conversam com os pais apenas para ditar a vida amorosa destes, Chad (Jacob McCarthy) enxerga o mundo do trabalho como um faz de conta, Audrey (Sosie Bacon) trabalha para uma mulher aparentemente viciada em remédios, sem se preocupar com a saúde dela. Este é um universo egocêntrico de jovens que passam os dias com seus celulares na mão, sem de fato pensarem em dinheiro, em política, na sociedade, nas famílias, na religião ou em qualquer outra instituição. Nosso Último Verão propõe um desfile de garotas lindas encontrando garotos musculosos, decidindo quem vai ficar com quem.

    Devido a esta abordagem, o resultado não deixa de soar tão leve quanto inconsequente. A responsabilidade inerente à vida adulta se torna um universo distante para o mosaico de classe média-alta que vive apenas o instante presente. Entre tantos personagens discutindo para qual festa irão ou quem devem beijar naquela noite, talvez o laço mais interessante seja aquele travado entre Audrey e uma criança pequena, forçada pela mãe a concorrer em concursos de miss. Surge entre as duas uma improvável amizade, com direito a discussões sobre a fuga de expectativas sociais - algo que poderia ser aprofundado, ou pelo menos expandido para os demais personagens. De qualquer modo, chega a ser um alívio ver duas garotas conversando sobre seus desejos sem um discurso utilitarista.

    De modo geral, o diretor e roteirista William Bindley preocupa-se em atualizar o conto de fadas à contemporaneidade, espalhando pela cidade príncipes e princesas em busca de seus pares ideais, seus castelos/faculdades mais suntuosos, com a ajuda de alguns golpes do destino absurdos demais até para a ludicidade típica da comédia – vide as namoradas adultas dos adolescentes nerds, o discurso amoroso em pleno transporte público ou a queda do atleta sedutor (Tyler Posey) no colo da garota linda e solteira (Halston Sage). Estes golpes do destino remetem ao aspecto fabular com a ajuda de muitos flares, música pop indie, cenários paradisíacos. A cidade é vista não como centro de atividades e conflitos, mas como palco de romances possíveis.

    Pelo menos, os atores se saem um pouco melhor neste projeto do que em outras comédias românticas produzidas pela Netflix (K.J. Apa é certamente mais talentoso que Noah Centineo), e personagens negros são enfim postos em posição de protagonismo, ainda que constituam uma minoria absoluta dentro do elenco. Ironicamente, neste microcosmo multiétnico (com direito a um jovem de ascendência indiana), não existe nenhum personagem gay ou lésbica. Além disso, a garota menos preocupada com sua aparência é a única para quem o roteiro não vislumbra a possibilidade de romance. Em outras palavras, o projeto percebe a existência de uma diversidade de indivíduos e relacionamentos, mas continua apostando na idealização do “garoto de classe média, lindo e branco encontra garota de classe média, linda e branca”, atravessando panelinhas destinadas a representar, desde o tempo dos estudos, a segmentação social da vida adulta.

    Trata-se de um mundo codificado que talvez não aponte a um futuro muito promissor. “Nossa firma tem os nerds, os populares, os rejeitados. É como estar no colegial de novo”, afirma uma estagiária que, mesmo descontente com o emprego abusivo, acredita estar fazendo uma boa escolha profissional por ter uma empresa de renome no currículo. Não seria uma surpresa se a dezena de jovens de Nosso Último Verão crescesse e se transformasse nos profissionais indistintos e arrogantes do local onde Erin trabalha, preocupados apenas com a marca exata do seu café e o horário da próxima reunião. Fora deste universo individualista, o mundo não existe.

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