Novo jogo, novos horizontes
por Barbara DemerovApesar desta ser uma sequência com personagens que já conhecemos e possuir uma dinâmica narrativa ainda mais divertida, talvez o elemento mais positivo de Jumanji - Próxima Fase recaia na adição de personagens que nada conhecem o mundo dos videogames – e que o público também não conhecia até então. Novamente sob o comando de Jake Kasdan, o segundo capítulo da franquia mistura nostalgia com inovação e consegue ser inventivo em certos momentos, mas ainda assim segue uma cartilha convencional para entreter seu público.
A sequência abre espaço para que uma trama sobre amizade e perdão esteja sempre no pano de fundo, por mais que não se abra mão da ação e de sequências em CGI que trazem detalhes bem caprichosos. Assim como no filme de 2018, os ambientes explorados são vastos e tão ameaçadores quanto deslumbrantes, o que faz com que Jumanji (agora afetado pela decisão dos personagens em destruir o jogo no final do primeiro longa) ainda seja uma novidade para o quarteto principal.
Passados alguns anos após a primeira aventura em grupo, Martha (Morgan Turner), Spencer (Alex Wolff), Bethany (Madison Iseman) e Fridge (Ser'Darius Blain) retornam ao game de forma um tanto apressada e sem muita atenção ao contexto relacionado às suas vidas reais. Uma breve explicação de como cada um está neste determinado ponto transforma Jumanji em uma forma de refúgio – mais até do que uma forma de diversão ou um desafio para se provar, ganhar confiança e descobrir quem você é (assim como vimos em Jumanji - Bem Vindo à Selva). Mas, mesmo com o romance entre Spencer e Martha, a grande graça do filme continua a de ver The Rock, Kevin Hart, Karen Gillan e Jack Black atuando como os personagens jogáveis e cheios de artimanhas.
Por conta do roteiro do filme ser diretamente ligado à história do game Jumanji, que já é muito simples, a narrativa ora se arrasta, ora se apressa sem dar muitos detalhes fora a ação. Não que esse seja um demérito – afinal, a história "boba" do game é justamente o que torna o filme tão divertido visualmente –, mas ainda falta certo brilho quando ela é analisada num plano mais geral. A sorte é que o elenco (agora contando com Awkwafina e Danny DeVito, que entregam atuações muito divertidas) não só segura bem as pontas como demonstra a mesma sintonia e comédia leve que apresentou no filme anterior.
Há poucos conflitos no enredo como um todo, o que certamente limita o filme a tomar grandes passos rumo ao desenvolvimento mais detalhado daquele mundo ou de algum personagem - com exceção de Danny Glover e DeVito, é claro. Ambos entram no jogo sem qualquer conhecimento prévio e ainda têm de lidar com resquícios do passado que envolveu uma grande amizade e um grande negócio. Jumanji: Próxima Fase passeia pela nostalgia de forma diferenciada: o jogo em si não é mais o cerne, apesar de ser o foco de uma grande aventura. Há inclusive uma cena que envolve o grande vilão do game (interpretado pelo Cão de Game of Thrones, Rory McCann) e que imediatamente traz referências à série.
No final, Jumanji - Próxima Fase vai além da comédia e da ação para entregar um desfecho emocionante relacionado a um personagem que se conhece melhor a partir das aventuras do game. Sendo assim, é curioso que a pessoa em questão nada conhecia desta tecnologia, mas se mostra mais maravilhado do que todas as personagens restantes. A tecnologia o abraçou de uma forma singela e bastante sincera também, trazendo uma mensagem um tanto poética para quem prestar mais atenção: a possibilidade de se sentir abraçado por uma tecnologia tão arcaica quanto envolvente, que dá uma nova realidade a partir de um medo (seja o de morrer ou de ser esquecido). O significado de Jumanji chega ao nível de representar a chance de liberdade; não só física como também emocional.