Desde que conquistaram o mundo com Vingadores: Ultimato, os irmãos Joe e Anthony Russo têm enfrentado uma dura realidade: a dificuldade de replicar o sucesso fora da Marvel Studios. Seus projetos pós-Ultimato, Cherry e Agente Oculto, foram recepcionados com frieza, revelando a fragilidade da dupla quando afastada de um universo cinematográfico previamente estabelecido. The Electric State, seu mais recente trabalho, surge como a última chance de demonstrar que ainda possuem capacidade de contar boas histórias isoladas. No entanto, o filme não apenas reafirma suas limitações narrativas, como também expõe uma dependência excessiva em fórmulas fáceis: a nostalgia, a referência descarada a outras obras e um apelo superficial ao público.
Baseado na graphic novel de Simon Stålenhag, The Electric State deveria ser uma obra de ficção científica imersiva, capaz de explorar a relação entre humanos, inteligência artificial e tecnologia em um mundo apocalíptico. O gênero já foi explorado de forma brilhante por outros filmes, como Matrix e Ex Machina, levantando questões filosóficas e éticas sobre o impacto da tecnologia na sociedade. No entanto, os irmãos Russo optam por reduzir esses temas a simples subtramas e transformar os robôs em alívios cômicos, esvaziando qualquer potencial reflexivo. Em vez de uma abordagem instigante, o longa se contenta em ser um desfile de referências aos anos 90, utilizando marcas e elementos pop de maneira excessivamente evidente. A tentativa de acobertar essa dependência é inexistente; ao contrário, os diretores fazem questão de escancarar suas influências, o que acaba diluindo qualquer traço de originalidade na narrativa.
Outro grande problema de The Electric State é a fragilidade no desenvolvimento de seus personagens. A relação entre humanos e robôs é rasa, sem emoção ou impacto genuíno. Os protagonistas são construídos de maneira estereotipada, e a tentativa de forjar um drama familiar não encontra alicerce narrativo suficiente para funcionar. O filme peca especialmente ao negligenciar o arco emocional de seus personagens, tornando a jornada uma experiência apática. Millie Bobby Brown se esforça para carregar o longa, transitando bem entre drama e comédia, mas o roteiro não lhe oferece material sólido. Já Chris Pratt repete sua performance de Guardiões da Galáxia, sem adicionar qualquer camada ao personagem. Ainda mais desapontador é o desperdício de atores talentosos como Stanley Tucci e Giancarlo Esposito, relegados a papéis irrelevantes e praticamente sem tempo de tela.
No aspecto técnico, o filme tem momentos de brilho, mas também tropeça. O alto orçamento de US$ 320 milhões faz de The Electric State a produção mais cara da Netflix, mas nem sempre o investimento se reflete na tela. Algumas sequências de efeitos visuais são impressionantes, enquanto outras parecem feitas com pressa, sem o polimento necessário. Esse desequilíbrio sugere que, apesar do dinheiro investido, o filme careceu de um diretor capaz de equilibrar narrativamente os recursos visuais. Gareth Edwards, com Resistência, e Takashi Yamazaki, com Godzilla Minus One, demonstraram que orçamento não é um fator determinante para efeitos visuais bem executados, desde que haja um planejamento eficiente desde a filmagem. Os irmãos Russo, por outro lado, parecem se apoiar mais na grandiosidade do que na coesão visual.
A questão que fica é: para onde os irmãos Russo vão a partir daqui? Seu próximo grande projeto será nada menos que Vingadores: Doomsday, e a preocupação cresce diante da sua dificuldade em entregar um filme envolvente sem uma base estabelecida. Até agora, todos os seus projetos fora da Marvel mostraram um esgotamento criativo e uma incapacidade de contar histórias marcantes sem recorrer a fórmulas pré-estabelecidas. É possível que sua próxima investida nos Vingadores também sofra com esses problemas, apenas encontrando redenção no aguardado Vingadores: Guerras Secretas.
No fim das contas, The Electric State tinha tudo para ser um grande filme: uma boa base na graphic novel, um elenco talentoso e um orçamento milionário. No entanto, os diretores optaram pelo caminho mais fácil, recheando o longa com nostalgia e referências ao invés de explorar sua história de maneira profunda. O resultado é um filme que entretém pontualmente, mas é superficial e esquecível. A Netflix investiu em uma superprodução vazia, que dificilmente marcará o gênero de ficção científica.