Vencedor do prêmio principal do último Festival de Cinema de Gramado, Ferrugem, filme dirigido e co-escrito por Aly Muritiba, tem uma estrutura narrativa muito interessante. A história é dividida em dois atos. No primeiro deles, acompanhamos a descrição de uma ação. No segundo, vemos serem retratadas as consequências desta ação, por meio da reflexão das personagens e, também, da necessidade iminente da tomada de uma decisão importante – e corajosa.
A trama escrita por Muritiba e Jessica Candal lida com temas bastante atuais. Numa sociedade altamente conectada, em que, além de consumidores de informação, somos também produtores de conteúdo, é algo comum que registremos e compartilhemos situações vividas em nosso dia a dia. Tati (Tiffany Dopke) age desta maneira, assim como seus demais colegas de colégio, bem como cada um de nós.
O que é corriqueiro se transforma em algo perigoso a partir do momento em que um vídeo íntimo de Tati vaza entre os estudantes do colégio, modificando por completo a rotina da garota, que vê um momento pessoal seu se converter em motivo e desculpa para que desconhecidos passem a julgar, de maneira cruel, a sua postura pessoal e, principalmente, a maneira como ela conduz a sua vida.
Ferrugem vai além ao nos mostrar que, ao contrário do que diz o senso comum, a Internet não é uma terra sem lei. Para cada ação, existe uma reação. Para cada decisão, existe uma consequência. Para cada ato de compartilhar, existe também a exposição a pontos de vista contrários. E é preciso coragem para enfrentar tudo isso. O linchamento moral que Tati sofre serve, também, como propósito para um processo de auto análise, também de cunho ético, em que outros jovens enxergam o seu papel – e suas responsabilidades – diante de uma conjuntura desse tipo.
Em muitos momentos, Ferrugem é um filme muito forte, que ataca diretamente as nossas posições morais e o nosso senso de justiça. Aly Muritiba acerta na escolha da divisão da história em dois atos, mas, ao mesmo tempo, peca no desenvolvimento dos arcos particulares de suas personagens. O segundo ato, principalmente pela presença de atores mais experientes, como Enrique Diaz, é muito melhor do que o primeiro. O final do longa é um verdadeiro soco no estômago que, com certeza, vai fazer você pensar duas vezes antes de sair compartilhando qualquer coisa por aí…