Crítica: Ferrugem
O filme Ferrugem, do diretor Aly Muritiba, estrelado por Tiffanny Dopke, Giovanni de Lorenzi e Enrique Díaz foi produzido no ano de 2018 e estreou no festival de Sundance.
O drama que aborda alguns temas complexos como o bullying, suicídio e a exposição nas redes sociais, é dividido em duas partes, com perspectivas diferentes fazendo uma clara alusão à ideia de causa e consequência, possuindo aproximadamente 50 minutos, a obra explora bastante a visão de cada um dos protagonistas, sendo que muitas vezes é difícil definir quem possui o papel principal. Na primeira parte a perspectiva é de Tati, uma adolescente de classe média, que possui uma vida aparentemente como a de tantos outros jovens brasileiros, sai para festas e utiliza bastante as redes sociais. Já na segunda parte temos a visão de Renet, outro jovem que leva uma vida bastante semelhante à de Tati, sendo esta segunda parte mais focada nas consequências.
O enredo se desenvolve aos poucos e sua base é o tema já amplamente abordado em outros filmes clichês de dramas adolescentes, sendo que o mesmo utiliza o tema de uma maneira pouco impactante e acaba por explorar rasamente um conteúdo de alto potencial. Sendo que arte é muito mais explorada do que a história, sendo ela muito bem trabalhada, com as mudanças de cenário e até a tonalidade do filme, sem falar de sua fotografia, que encanta os olhos de seus espectadores.
No início, o filme apresenta seus personagens de maneira breve e fria, não criando empatia entre quem assiste a película e os personagens da obra, além de que não nos é apresentado quais as intenções e a essência dos protagonistas e coadjuvantes, algo que poderia ser bom se o filme em algum ponto desse uma mínima construção decente de personagem. Existem muitos papéis e pouca atenção de roteiro com cada personagem isolado, muitas histórias e confusões tentam se desenvolver simultaneamente, porém nenhuma com consistência.
Os atores claramente se esforçam para dar vida a esses personagens tão bidimensionais e rasos, pois o roteiro do filme simplesmente não se interessa em desenvolvê-los. Após a breve apresentação, o conflito se inicia de maneira intrigante, deixando um que de mistério no ar, porém logo notamos que a conexão entre os fatos não é sólida e as coisas simplesmente acontecem, sem sequencia exatamente lógica. No meio da trama, o diretor ainda insiste em jogar mais personagens no lixo, como o ex-namorado de Tati, ou o primo de Renet, a única personagem que foi realmente bem explorada foi a mãe de Renet, que aparece de surpresa, parece ser uma decepção, mas surpreendentemente é a personagem mais profunda e cheia de emoção desse filme sem graça.
A história realmente tinha potencial, uma trama de vingança complexa e cheia de emoções poderia ser explorada e com certeza renderia um filme muito melhor do que o já existente, porém, Aly Muritiba e seu time insistem em utilizar clichês o tempo todo, surpreendendo apenas com um mini clímax ou outro, inclusive com seus personagens incrivelmente estereotipados. Por muitas vezes o clima se distancia fortemente da realidade, como a forma que o bullying é empregado. A personagem de Tati, que é quem mais sofre, vive o que parece ser uma realidade física isolada de todo o resto do mundo, pois nem seus pais nem a escola percebem uma alteração no tratamento para com a menina, inclusive havendo ocultação de provas por um personagem fixo.
O filme é feito para adolescentes que nem ao certo compreendem o tema e irão se comover profundamente sem perceber a superficialidade do roteiro, que nem sequer nos dá um desfecho decente, tentando fazer algo impactante, deixando um final mais interpretativo, porém, acaba por falhar grotescamente no processo.