Enquanto o Brasil vivia uma das mais graves crises institucionais e políticas de sua história, no período de 02 de dezembro de 2015 a 31 de agosto de 2016, quando ocorreram os eventos que levaram ao impeachment da então Presidenta Dilma Rousseff, um meme se tornou bastante popular na Internet: aquele que dizia que tínhamos pena dos professores de história, que teriam que explicar, no futuro, toda a confusão que marcou este acontecimento.
Para ajudá-los, como uma importante ferramenta de registro histórico de todo este momento, temos o documentário O Processo, dirigido por Maria Augusta Ramos, e que acompanha o impeachment de Dilma Rousseff a partir do momento em que o relatório feito pelo Senador Antonio Anastasia foi votado pela comissão especial do Senado Federal, em 06 de maio de 2016, até o instante em que Dilma Rousseff profere seu discurso de encerramento de governo, após seu impeachment ser aprovado pela maioria do Senado, em 31 de agosto do mesmo ano.
É interessante perceber a forma como Maria Augusta Ramos captura essa história. Não temos a intervenção de entrevistadores, nem muito menos a presença de narradores no decorrer do filme. Os fatos falam por si só. As câmeras só estavam lá para capturar aqueles momentos, quase que como observadores silenciosos, que não interferem diretamente naquelas situações. Entretanto, é o olhar delas sobre aquelas personagens – políticos do PT e dos mais diversos partidos, juristas, os responsáveis pela abertura do processo de impeachment – que irão determinar justamente a maneira como veremos todo este acontecimento.
Quando foi aberto, o processo de impeachment acusava Dilma Rousseff de dois crimes: o primeiro deles, de desrespeito à lei orçamentária, na medida em que ela autorizou a emissão de decretos de créditos suplementares, e de ter cometido as chamadas pedaladas fiscais, que são aquelas manobras fiscais que os governos fazem para causar a impressão de que eles arrecadam mais do que gastam.
Entretanto, o buraco, naquele momento, estava muito mais embaixo. O Brasil vivenciava uma grave crise econômica, cujos ecos podem ser percebidos até hoje, com milhões de desempregados. Além disso, movimentos sociais ditos “apartidários” estavam muito bem organizados, de forma a mobilizar a população contra a Presidenta. Assistir a “O Processo” é comprovar por A + B que Dilma Rousseff entrou num jogo já com o resultado decidido… Seu maior pecado não foi os crimes dos quais ela foi acusada (e que, diga-se de passagem, não foram comprovados por auditorias encomendadas durante o processo), e sim não ter obtido a mínima possibilidade de governabilidade no jogo sujo que é travado por dentro das instituições do poder da Capital Federal.