Ha muito tempo eu queria falar deste filme, mas um pouco de receio sempre visitou minha mente. É que se trata de um dos meus filmes preferidos, e que na minha concepção é um dos mais característicos filmes existentes. (Aqueles filmes que você vê um slogan e lembra toda a história.). É uma trama psicológica que nos mostra um "Horrorshow" (esses termos são trabalhados no filme). Uma mescla de cinismo, hipocrisia, e tudo que você conseguir pensar só na primeira meia hora do filme.
É um filme fabuloso do início ao fim. Alex DeLarge é o chefe da gangue que tem por hábito tomar um leite drogado e sair espancando moradores de rua. O filme se passa em 2050, com cenários e roupas bem psicodélicos, com uma linguagem própria (Uma mistura de inglês, russo e gírias). Kubrick reinventa a imagem adolescente, de uma forma totalmente futurista e fora do comum. Durante as gravações, ele muda as posições dos objetos de uma tomada para outra, para causar desorientação no expectador, ele tem um cuidado incrível para que essa confusão permaneça até o último instante do filme.
Após ser pego, Alex já dentro da prisão sofre duas grandes pressões: Religiosa e Política. Não tendo eficácia com a religião, obviamente, o Estado haveria de dar um jeito. Alex é submetido como cobaia humana em um lento e desesperador projeto: "A cura da violência". Ele é exposto a imagens de comportamentos violentos antes sentidos com prazer, porém agora acompanhados de terríveis efeitos colaterais causados por uma espécie de "cadeira elétrica". Toda vez, portanto, que fora do ambiente presidiário houvesse uma cena de violência, ao invés de sentir prazer ele sentiria calafrios, náuseas, dores e tudo que fosse possível um corpo suportar.
Após esse banho de imagens de violência, o paciente/presidiário Alex é liberto. A Definição de Liberdade aqui dita por apenas sair do presídio. É interessante notar, o jogo com as músicas que Kubrick faz: A música clássica que antes era algo que o levava o jovem adolescente a redenção, após a terapia comportamental, é sentida com a mesma agonia da violência, o mesmo se aplica para a música “Singing' in the rain” antes vista como expressão da violência, agora é vista como expansão do ódio.
A violência nada mais é do que um reflexo do que há dentro de cada um. Alex estava tomado de raiva, ódio e opressão. Ele conseguia jogar com esses sentimentos colocando-os para fora na forma de socos, chutes e pontapés... Mas agora, tudo estava lá dentro, crescendo sem espaço... Até explodir.
*É engraçado ver, como o personagem de uma hora para outra, consegue cativar o telespectador. Antes o odiado violento, se torna o mocinho da trama. Alex sofre pois continua a sentir a vontade de socar, bater, estuprar. O Sistema não estava interessado em acabar com os seus desejos e sim em puni-lo por tais pensamentos.
É mais ou menos o que acontece nos dias atuais. Muito se importam em prender o criminoso, em fazer pagar pelo que fez, olho por olho e dente por dente. Porém sem pensar em exterminar o mal dentro daquele ser humano. Ou seja: Prende-se o criminoso, mas não se prende o crime. Não adianta enjaular uma pessoa violenta sabendo que a poucos meses irá sair, e continuar violenta. É necessário que ela mude, de dentro pra fora e não o contrário.
O diretor, Kubrick, é PERFEITO nesse filme, assim como em quase todos os que ele faz. É uma crítica maravilhosa ao Sistema. Não há como não olhar o filme e não se impressionar, não entender o porque tantas pessoas são fãs dessa obra prima. Eu indico não que assistam uma única vez, mas que assistam várias vezes, procurando sempre entender mais a proposta do drama. Não há como explicar, a nota só poderia ser máxima. Não vou falar mais senão posso acabar estragando a surpresa.