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    Operações de Garantia da Lei e da Ordem
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Operações de Garantia da Lei e da Ordem

    A reportagem das reportagens

    por Bruno Carmelo

    Visto que o Brasil atravessa um dos momentos políticos mais complicados desde o golpe de 2016, é muito bem-vindo no cinema nacional um projeto buscando dissecar o peso da mídia na degradação democrática do país. A diretora Júlia Murat e o codiretor Miguel Antunes Ramos propõem relembrar o ano de 2013, quando a crise eclodiu, contrapondo o discurso oficial das redes hegemônicas (Globo, Record, Bandeirantes) ao ponto de vista do jornalismo alternativo, como a Mídia Ninja.

    A intenção é realizar um “filme de edição”, um projeto de apropriação de materiais. Sem captar imagens próprias para o documentário, os cineastas reúnem amplo número de vídeos extraídos dos arquivos da televisão e da Internet. A distinção entre eles é evidente: enquanto as grandes corporações buscam desqualificar os movimentos sociais e apoiar a brutalidade policial, os jornalistas progressistas denunciam a manipulação das corporações, a violação de direitos humanos e a falsificação de provas por parte da polícia para servir de álibi às forças do governo.

    O discurso é tão importante quanto óbvio. O público conservador, que não costuma ir ao cinema para assistir a projetos do gênero, vai provavelmente ficar longe das ideias progressistas de Operações de Garantia da Lei e da Ordem. Assim, a possibilidade de sensibilização do espectador médio ao tema é remota. Já o público receptivo a denúncias como estas deve conhecer as manipulações da Rede Globo há muito tempo. Murat e Ramos não propõem nenhuma alteração dos materiais de origem, nenhuma dissociação do som em relação à imagem, nenhuma fragmentação, nenhum atrito particular pela montagem.  

    Pela exploração convencional de um material recente, o documentário provoca um efeito curioso em relação à temporalidade. Ele soa ao mesmo tempo datado demais, por abordar as manifestações de 2013 sem levar em consideração as profundas mudanças políticas desde então, e recente demais, tentando relembrar o espectador algo que ele dificilmente esqueceu. Ao espectador politizado, os discursos da Dilma, os vídeos da Mídia Ninja e as edições do Jornal Nacional fazem parte de uma ferida aberta. Por que apenas relembrá-las, se não existe nada particularmente novo no discurso?

    A montagem, que supostamente seria o grande trunfo do projeto, restringe-se ao acúmulo de reportagens. Elas se sucedem sem fornecer uma dialética particular: a divisão em “passos” utilizados para garantir a lei e a ordem revela-se pouco frutífera. Com algumas nuances, os capítulos reiteram a evidência de que o governo e a polícia buscam desqualificar os opositores e defender aqueles que os apoiem. Nenhuma novidade no front – não há nenhum plano particular como estratégia de combate.

    Operações de Garantia da Lei da Ordem resulta num esforço modesto para apontar falhas no sistema sem tentar compreender as suas origens, suas consequências no tempo presente nem suas possibilidades de manifestação no futuro. A rápida menção a Michel Temer é insuficiente para retratar a evolução de uma trama política que não para de se modificar. O filme se limita à constatação das desigualdades de poder, de informação, de recursos – caso alguém tenha esquecido.

    Filme visto na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2017.

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