Olha, não se trata de um filme e sim de um filme de animação, portanto quem for assistir vai ver um “desenho animado” e não um filme em sí.
Outra coisa, não é um filme budista e nem de uma história budista, tão pouco uma lenda japonesa. É uma fábula indiana (a origem do budismo é na índia e não no Japão) que pretende, alegoricamente, contar a saga do ser humano no Planeta com valores e visão da época em que foi difundida, muitas eras atrás sem data precisa.
Essa lenda milenar foi adotada pela seita budista “Jodo Shinshu Shinrankai” e daí a ideia de seja originalmente uma lenda budista e até verídica.
O que vemos é a versão japonesa, também muito antiga, estima-se em 800 anos atrás, de uma lenda indiana muitíssimo mais antiga. E no Japão foi revestida pelos valores budistas. O que temos aqui é uma animação, atual, do livro (esse, sim, escrito por erudito em budismo) feita por profissionais do cinema japonês contemporâneo e não por budistas.
Mas, sim, essa versão, tanto do livro como do filme, é a versão da seita que se confunde com sua própria história. E aqui pode parecer ainda mais um mero filme doutrinário.
Outra ressalva é que a animação pretendia comunicar-se com o público infantil, obviamente japonês. Apresentando uma versão mais otimista da Vida para aqueles que estão embarcando no Planeta agora e vendo tanta discórdia e conflitos.
A reação positiva e receptiva do público em geral ao filme foi uma surpresa, tanto que, desde seu lançamento, ele vem sendo exibido em espaços públicos e privados e já se vão 13 anos de veiculação ininterrupta.
A animação ficou a cargo de Hideaki Ôba que em si traz um discurso mais reflexivo e plácido, nada a ver com as ações acrobáticas dos animês tradicionais muitas das vezes ao molde da escola de Hayao Miyazaki da qual foi discípulo. Esse discurso filosófico acontece através de traços muitas vezes bucólicos com cenas longas e muito silêncio. Bem ao sabor oriental mesmo.
Enfim, para nossa cultura e atual ou a falta dela é uma animação mais indicada aos adultos e aos menos fogosos. Agora, dá pra assisti-lo sem esse viés religioso, porém com uma reflexão filosófica de autoconhecimento da vida e como a vivemos atualmente.
Um belo trabalho para quem pode dispor de tempo para filosofar sobre si mesmo e sem culpa.