(Insta: @cinemacrica) - Mesmo dentro do seu micro universo, alheio às facilidades de grandes produções que têm nos filmes de época a vazão perfeita de recursos, este modesto lançamento da Netflix demonstra notável competência. O contorno dado à impossibilidade de oferecer uma cenografia pujante é a construção assumida da angústia claustrofóbica. Um grupo de amigas é detido após serem flagradas dançando à noite. A barbárie se desenvolve na Espanha do século 17 e remonta os abusos do Estado e igreja em classificar, segundo suas percepções, aquelas que podem ser consideradas bruxas. O íntimo das garotas é invadido com sequências de close-ups que pouco espaço cedem aos cenários. O uso de iluminação natural e, principalmente, de fogueiras e candelabros associada à fotografia de bom gosto resulta numa estética agradável, mesmo que simples. O enredo, contudo, norteia-se basicamente no pilar da arbitrariedade legítima do Estado em queimar quem julgar ter qualquer tipo de afinidade satânica. O caráter abusivo é constantemente lembrado durante toda a narrativa que consiste no interrogatório das acusadas. O foco dessa exposição passa do ponto da elegância da denúncia e incorre na construção de antagonistas exagerados. O abuso do poder é muito pronunciado, assim como a inocência em acreditar nas fantasias que a protagonista opta elaborar para canalizar a culpa em si e livrar as demais. Difícil conceber a proposta: 3 paspalhos velhos ludibriados por uma garota. Apesar das obviedades e exageros que regem quase todo o processo, essa leitura do passado tem ares de modernidade na forma com que lida com a desgraça institucionalizada. Não anteciparei a resolução, mas há uma positividade similar ao que senti ao terminar de ver "Thelma & Louise".
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