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    Fevereiros
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Fevereiros

    A menina dos olhos de Oyá

    por Francisco Russo

    Não há artista brasileiro mais reverenciado pelo cinema no século XXI do que Maria Bethânia, fruto não só de sua importância no cenário musical mas, também, por sua dramaticidade implícita e sorriso cativante. Após Música é Perfume e Pedrinha de Aruanda, a cantora é mais uma vez homenageada em Fevereiros, que busca um enfoque um tanto quanto diferente dos documentários anteriores.

    Por mais que siga o clássico formato da entrevista com imagens de arquivo, o longa dirigido por Marcio Debellian busca uma faceta bastante específica da cantora: sua religiosidade. É a partir dela que inicia a jornada por Santo Amaro, sua cidade-natal, em busca de referências de infância que vão do catolicismo ao candomblé, passando pelos ícones e a musicalidade que tanto a influenciaram. A consagração vem na Novena de Fevereiro, evento tradicional de devoção à Nossa Senhora da Purificação, retratado a partir das belas imagens captadas pelo diretor.

    Mais do que simplesmente relatar suas influências, o contraste entre as religiões apontadas e a naturalidade com o qual Bethania discorre sobre ambas, sempre com imenso carinho, aponta uma síntese da mistura que é o brasileiro, um cadinho aqui e outro acolá. Não por acaso, o carnavalesco Leandro Lima a chama de "Brasil com cara de Brasil."

    Soma-se a esta imersão pessoal uma outra faceta da vida da cantora, esta factual: o desfile da Mangueira em sua homenagem, ocorrido em 2015 e nomeado "A Menina dos Olhos de Oyá". Por mais que seja uma referência tardia, já que o documentário foi lançado apenas três anos após tal evento, os bastidores dos ensaios e o sorriso resplandescente da homenageada em plena Marquês de Sapucaí valem todo e qualquer excesso que tal trecho traz ao documentário.

    Bastante afetuoso, seja pela personalidade de Bethânia ou mesmo pelo carinho escancarado de todos à sua volta, Fevereiros foge do didatismo em torno da música popular brasileira ao intencionalmente optar pela origem de sua protagonista, olhando tanto para o passado que permeia até os dias atuais quanto ao presente que reverencia sua formação. Além disso, traz ainda uma cena linda e emblemática: Maria Bethânia e Chico Buarque juntos no palco, ela deixando-o desconcertado diante do público. Imperdível!

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