O lançamento de um filme de Woody Allen é sempre um grande acontecimento para entusiastas do cinema do mundo inteiro, ainda mais com as polêmicas que o grande cineasta tem vivido em sua vida pessoal a ponto de atingir seu trabalho como neste seu mais filme, Um Dia de Chuva em Nova York.
Gatsby (Timothée Chalamet, de Querido Menino) é um jovem universitário que só está na universidade por causa de sua namorada, Ashleigh (Elle Fanning, da franquia Malévola), que estuda jornalismo. Ashleigh diz a Gatsby que conseguiu marcar uma entrevista com o cineasta Roland Pollard (Liev Schreiber, de A Profecia), que está em Nova York. Gatsby aproveita a ocasião para ir junto com a namorada, para passar um fim-de-semana romântico.
Após chegarem em Nova York, Ashleigh vai entrevistar Pollard, que a convida para assistir uma prévia de seu novo filme junto a seu empresário, Ted Davidoff (Jude Law, de Inteligência Artificial), o que desagrada Gatsby. Enquanto aguarda a volta de Ashleigh, Gatsby vai dar uma volta pelas redondezas e encontra um antigo colega que está fazendo um filme, precisa de um figurante para uma cena de beijo e convida Gatsby para fazer a cena e ele aceita.
Ao ir fazer a cena, descobre que a atriz com quem vai atuar é Shannon (a cantora Selena Gomez, da franquia Hotel Transilvânia), a irmã mais nova de uma ex-namorada sua. Após as filmagens, decidem sair juntos. Enquanto isso, após um sumiço de Pollard, Ashleigh envolve-se com o ator espanhol Francisco Vega (Diego Luna, de Rough One).
Um Dia de Chuva em Nova York estava a ser produzido normalmente quando surgiu o movimento #MeeToo, que denunciava casos de assédio sexual na indústria do cinema. Aproveitando a onda, a ex-companheira de Allen, a atriz Mia Farrow (Terror Cego), trouxe novamente a tona uma antiga acusação de abuso sexual contra o cineasta com a filha, Dylan.
Embora tivesse sido inocentado em um inquérito anterior, a volta dessa acusação trouxe repercussões negativas. Timothée Chalamet e Selena Gomez doaram o pagamento que receberam pelo filme para a caridade. A Amazon Studios, produtora do filme, apavorada com a polêmica, suspendeu o lançamento do filme por mais de um ano. Allen entrou com processo na justiça por quebra de contrato. As partes acabaram por entrar em acordo e Um Dia de Chuva em Nova York foi liberado para lançamento: primeiro na Europa, depois América do Sul, Ásia e, finalmente, os EUA.
Mas em que toda essa confusão afetou Um Dia de Chuva em Nova York em si? A verdade é: em nada. Mas, tanto agora como futuramente, será impossível falar desse filme sem referir-se a toda essa turbulência.
Quando assiste-se Um Dia de Chuva em Nova York, a impressão que fica é de mais do mesmo, com ideias usadas anteriormente, o que pode frustrar os espectadores depois de criada uma expectativa tão grande. Porém, ainda é um filme de Woody Allen, o que já é uma garantia de uma produção acima da média.
Woody continua com seu estilo seguro de dirigir, mantendo a plateia atenta em todos os passos do casal de namorados separados por força das circunstâncias. E, em uma coisa o diretor continua insuperável: mesmo em um cenário chuvoso, ninguém mostra a cidade de Nova York de modo tão bonito quanto ele. Nisso é ajudado pela bela fotografia de seu velho amigo e colaborador Vittorio Storaro.
O elenco masculino, seja o badalado Timothée Chalamet e os coadjuvantes de luxo Jude Law, Diego Luna e Liev Schreiber estão corretos em seus papéis, mas a impressão que me deram foi que eles não sacaram bem o senso de humor alleniano e, por vezes, pareciam deslocados e até desengonçados.
Em contrapartida, as atrizes estão muito bem. Selena Gomez, com sua eterna cara de adolescente bonitinha e bochechuda, surpreendeu-me agradavelmente com uma atuação natural e com boa desenvoltura. Mas o grande destaque é, sem dúvida, Elle Fanning. Ao contrário dos atores, a irmã mais nova de Dakota Fanning (de Tudo o Que Eu Quero) sacou e muito bem o senso de humor de Woody Allen. Sua interpretação de moça provinciana, ingênua e bobinha deslumbrada com o glamour das produções cinematográficas faz lembrar os melhores momentos de outras musas de Allen como Diane Keaton (Clube das Desquitadas) e até mesmo de Mia Farrow, quando ambos estavam de boa.
Um Dia de Chuva em Nova York é um Woody Allen menor, mas vai agradar ao público em geral principalmente pelo seu romantismo, um sentimento que Woody sabe passar como poucos. Agora é aguardar o lançamento de seu próximo filme, Rifkin's Festival (ainda sem título em português), que já está pronto e com lançamento previsto para maio de 2020. Esperemos que esta produção tenha um lançamento mais tranquilo...