Entre a realidade e a ficção
por Lucas SalgadoO cultuado diretor francês Olivier Assayas já se mostrou capaz de dirigir obras grandiosas e épicas como Carlos e também produções intimistas focadas no diálogo como Acima das Nuvens. Lançado no Festival de Toronto de 2018, Vidas Duplas se encaixa mais no segundo caso.
O novo longa conta a história do editor Alain (Guillaume Canet) e do autor Léonard (Vincent Macaigne), que veem sua amizade abalada pelo fato do editor não gostar muito do último livro do escritor. Os dois também vivem crises em seus relacionamentos, enquanto que discutem a crise na indústria literária.
Parceira de longa data de Assayas, Juliette Binoche vive Selena, esposa de Alain que admira muito o trabalho de Léonard. A atriz, como de costume, está ótima, sempre roubando a cena e se impondo mesmo diante de veteranos como Canet.
Macaigne, no entanto, é quem ganha o personagem mais complexo. Um autor que só consegue escrever sobre experiências próprias de sua vida, o que faz suas obras serem transparentes para aqueles que o conhecem.
O roteiro de Assayas oferece divertidas analogias sobre a relação entre verdade e ficção, e sobre a liberdade de contar sua história mesmo que envolva outras pessoas.
Vidas Duplas é ágil, divertido, sexy e bem atuado. E francês. Extremamente francês. Focado em diálogos e personagens exóticos, pode parecer sem muita coisa para dizer. Mas é sempre atraente. E inteligente.
Deve-se reconhecer, no entanto, que há algo de bidimensional na produção. O texto nunca é tão envolvente quanto deveria. E Assayas não entrega aquela estranheza característica, tão presente em seu trabalho anterior (Personal Shopper).
Filme visto durante o Festival de Toronto, em setembro de 2018.