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    Meu Nome é Bagdá
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Meu Nome é Bagdá

    Desbravando o mundo e aprendendo com ele

    por Barbara Demerov

    O roteiro de Meu Nome é Bagdá é simples, não possuindo inúmeros elementos que direcionem a história a caminhos complexos ou de difícil conclusão. A história é sobre Bagdá (Grace Orsato) e ponto. Tudo o que acontece no espaço de 90 minutos é resultado de sua presença em cena - seja nas pistas de skate com amigos, no salão de beleza com a mãe ou em casa com suas irmãs.

    Mas o que o filme de Caru Alves de Souza tem de sobra é sentimento. Desde o campo da adolescência, com todas as inconstâncias, até a temática do skate, com a presença majoritária de amigos e não amigas, Bagdá navega por seus horizontes com bastante personalidade e uma presença marcante. O espectador acompanha tudo isso com o olhar da jovem e, com isso, o filme nunca deixa de ser divertido ou empolgante. 

    Há certas repetições de discurso ao longo da narrativa (especialmente sobre a presença feminina na área do skate), mas elas não incomodam a ponto de quebrar o ritmo de Meu Nome é Bagdá. A direção e montagem deixam bem claro que o intuito é mostrar o mundo privado de Bagdá e a cinzenta São Paulo a partir de um ponto de vista íntimo, não sob um olhar mais geral e distanciado.

    Aos poucos, ela conhece mais garotas skatistas e passa a perceber a falta que existe nesta área que deseja se profissionalizar; mas ao mesmo tempo, também vê a truculência policial bastante exaltada com skatistas da periferia e ganha gosto por filmar as pessoas ao seu redor. Seu possível interesse com cinema nunca é abordado de forma mais próxima - apenas a vemos andar por aí com uma filmadora -, mas de qualquer forma isso evidencia o espírito independente da protagonista. Bagdá faz o que bem entender e está se descobrindo, afinal.

    Os ótimos momentos de Meu Nome é Bagdá estão sempre relacionados à família da jovem, com Karina Buhr interpretando uma mãe amorosa e duas irmãs mais novas que trazem muita simpatia à história. As melhores cenas são tão naturais que nem parecem que há um roteiro por trás delas; o que é um grande mérito, pois assim os acontecimentos são equilibrados entre a leveza afetiva e os desafios que nascem fora daquela zona de conforto.

    Bagdá ainda não sabe ao certo como será seu futuro: ela vive e enfrenta o agora, e é nisso que o filme foca quase que estritamente. Este é um retrato atual e muito próximo da adolescência como ela é, adicionando uma parcela extra de atualidade ao falar sobre comportamentos machistas e sororidade feminina. Há muitos diálogos que são proferidos como se a câmera não estivesse ali, num estilo de conversa informal. Apesar de não soarem espontâneos em algumas passagens, o significado é bem acentuado. O maior mérito de Meu Nome é Bagdá é a aproximação verdadeira que possui com sua protagonista, o que resulta numa obra com muitas ramificações, mas sem nenhum exagero.

    Filme visto no 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2020.

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