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    Rua do Medo: 1666 - Parte 3
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Rua do Medo: 1666 - Parte 3

    Evolução incompleta

    por Kalel Adolfo

    Da apatia à diversão, a trilogia Rua do Medo transmitiu inúmeras sensações mistas. E agora, no capítulo final da franquia, a diretora Leigh Janiak — que concedeu uma entrevista ao AdoroCinema — aposta em cargas emocionais maiores do que vimos nos capítulos anteriores. Apesar do longa ser inconstante — servindo atos que não conversam entre si — a experiência consegue atingir alguns momentos autênticos.

    Desta vez, Deena (Kiana Madeira) realiza uma viagem astral ao século XVI e descobre a origem da maldição que assola Shadyside. Assim que entende as motivações de Sarah Fier, a protagonista consegue desenvolver um plano para quebrar o feitiço ao lado de C. Berman (Gillian Jacobs) e Henry (Benjamin Flores Jr). Porém, a aventura sinistra fará com que ela perceba que a cidade possui alguns vilões bem mais perigosos do que imagina.

    Capítulo final da trilogia conversa com os tempos atuais

    Aliás, por mais que o terceiro volume seja ambientado em um século distante, ele soa muito mais contemporâneo do que Rua do Medo 1994 e 1978. Isso porque ele é explicitamente influenciado por obras recentes como A Bruxa (2015) — de Robert Eggers — e It Comes At Night (2017). Além desses títulos serem excepcionais em capturar o espírito de um período antigo, eles também são capazes de mergulhar em dramas emocionais sem esquecer do terror.

    Em 1666, Janiak mira exatamente neste tipo de cinema: o famigerado pós-terror. Em grande parte do primeiro ato, a escolha é muito bem-sucedida, já que a cineasta consegue aprofundar personagens e motivações que ainda não estavam tão maduras nos capítulos anteriores. Agora, além de sentirmos empatia por Deena (Kiana) e Sam (Olivia Welch), nós também entendemos a raíz de inúmeros conflitos, fazendo com que o engajamento na trama seja extremamente genuíno.

    Todo esse comprometimento dramático também oferece assuntos relevantes para a produção, como o preconceito, o fanatismo religioso e o machismo. E claro, apesar desses tópicos não representarem as engrenagens centrais da trama, eles são introduzidos de forma orgânica, combinando com os outros pontos abordados no roteiro.

    Personagens finalmente ganham a redenção que merecem

    Nos primeiros longas, os personagens de Rua do Medo poderiam ser facilmente encaixados em protótipos do horror. Mas em 1666, isso é satisfatoriamente abandonado. Deena e Sam — por exemplo — deixam de ser um simples casal conflituoso para se transformar na dupla que determina os rumos da história. Até mesmo a química entre as duas é aprimorada, trazendo mais credibilidade ao romance que rege a narrativa.

    Ambientação ambiciosa e sequências ainda mais elaboradas

    Enquanto 1994 tenta mimetizar a áurea dos anos noventa — e 1978 apenas recria o infame Crystal Lake — o volume final da trilogia aposta em cenários e figurinos complexos, que transportam o espectador para um período distante. O design de arte é admirável, e até mesmo a iluminação desempenha um papel importante na experiência, já que contribui para o desenvolvimento de um clima arcaico e pouco convidativo.

    As sequências horripilantes do segundo ato também não decepcionam: extremamente bem coreografadas, o plano mirabolante que os jovens de Shadyside criam para derrotar o exército de Sarah Fier é retratado de forma divertida, sangrenta e irreverente.

    Apesar de divertido, segundo ato repete os mesmos erros dos volumes anteriores

    Por mais inventivo que seja, o desfecho de Rua do Medo peca ao cortar abruptamente a maturidade construída no primeiro ato. Enquanto as explicações sobre as raízes de Sarah Fier são preenchidas por paranóia, o aguardado fim da maldição é executado de maneira boba.

    As respostas que tanto aguardamos são simplistas, e chegam a nos fazer refletir se realmente valeu a pena consumir os três capítulos da trilogia. Infelizmente, os filmes são demasiadamente diferentes em tons, beirando a incoerência em alguns momentos.

    Existe uma linearidade que atravessa a trilogia, mas às vezes, tudo parece ser uma grande homenagem slasher sem maiores propósitos. Sim, Fear Street é divertido. Contudo, ele não possui quaisquer momentos marcantes. Talvez o formato da história funcionasse melhor através de um seriado, para que os diferentes conceitos pudessem ser ampliados. De qualquer forma, o resultado final é apenas razoável — e levemente esquecível.

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