Minha conta
    Rua do Medo: 1978 - Parte 2
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Rua do Medo: 1978 - Parte 2

    Novo Crystal Lake

    por Kalel Adolfo

    Após uma morna introdução ao universo criado por Leigh Janiak (Honeymoon) em Rua do Medo: 1994 - Parte I, o segundo volume da trilogia eleva os padrões da narrativa, trazendo elementos nostálgicos bem construídos, atuações irreverentes e um senso de diversão contagiante que — até então — estava ausente na saga de terror.

    E apesar de servir como uma continuação direta aos mistérios apresentados no volume anteriorRua do Medo: 1978 - Parte II traz uma proposta sólida o suficiente para ser julgada como uma obra independente. Aliás, caso você esteja procurando por um revival convincente de grandes clássicos do slasher como Sexta-feira 13, Acampamento Sinistro e Chamas da Morte, o título será uma experiência extremamente prazerosa.

    Desta vez, a trama retorna para os anos setenta, retratando os assassinatos brutais que ocorreram no acampamento Nightwing. Ziggy Berman (Sadie Sink) e Cindy Berman (Emily Rudd) — vítimas do massacre — são peças centrais da história, já que de alguma forma, conseguiram sobreviver aos ataques sobrenaturais liderados pela temida Sarah Fier. Portanto, Deena (Kiana Madeira) e Sam (Olivia Scott Welch) devem prestar atenção aos fatos narrados por C. Berman, já que podem encontrar uma forma de escapar da maldição que continua assolando Shadyside.

    Slashers irão dominar a nova década?

    Rua do Medo: 1978 alimenta uma tendência fortalecida por títulos como You’re Next (2011) e It Follows (2014) nos últimos anos: o retorno dos slashers ao mainstream. Extremamente desgastado por fórmulas repetitivas, o subgênero vem encontrando fôlego novamente nas mãos de cineastas talentosos que conseguem brincar com os clichês e reinventar algumas regras. Tudo isso sem levar a proposta sádica tão a sério.

    E apesar de Janiak não conseguir atingir a inventividade de algumas obras recentes, o segundo volume da trilogia consegue resgatar a sensação escandalosa e subversiva presentes neste tipo de trama. Jovens inconsequentes, drogas por toda a parte e escolhas estúpidas: a diretora não negligenciou nenhum destes pontos em seu projeto. 

    Aliás, assistir ao segundo volume da trilogia é como ouvir uma assustadora lenda urbana em frente a uma fogueira na floresta. Nós já sabemos tudo o que vai acontecer, mas isso não torna a experiência menos cativante ou amedrontadora. 

    Sanguinolência e dramas paralelos na medida certa

    Apesar dos efeitos práticos continuarem a fazer falta neste novo capítulo, as sequências sanguinolentas entregues são extremamente efetivas. De esquartejamentos à fraturas ósseas, a produção não poupa esforços em tentar embrulhar o estômago dos mais fortes. Mais do que uma simples carta de amor ao subgênero, a trama escapa da homenagem artificial e consegue criar as suas próprias raízes.

    Contudo, se engana quem pensa que o segundo volume se resume a perseguições e mortes excêntricas. Alguns dramas secundários — como o relacionamento conturbado entre Ziggy e Cindy — são bem explorados no roteiro, trazendo maior profundidade e senso de propósito a esses personagens.

    Diferente da apatia apresentada em Rua do Medo: 1994, a continuação lida com questionamentos mais relevantes, como o medo de ser definido pelo passado e as consequências de negar a própria identidade.

    Utilizando o embate entre Shadyside e Sunnyside como plano de fundo, todas as adversidades apresentadas acabam ganhando ainda mais veracidade.

    Formato do filme da Netflix é questionável

    Apesar de diversos elementos darem certo nesta continuação, é inevitável pensar que Rua do Medo poderia ser um projeto muito melhor caso fosse transformado em um seriado. O excesso de informações distribuídas em menos de duas horas retira a simplicidade encantadora da trama, proporcionando uma áurea bagunçada — e até amadora — para o projeto.

    A objetividade dos slashers é o que abre espaço para a inventividade e excelência do subgênero. Contudo, a preocupação em ser ambicioso a cada minuto faz com que o filme desvie do foco e acabe não atingindo os pontos necessários para criar uma experiência avassaladora.

    Mas de modo geral, Rua do Medo: 1978 entrega muito mais do que seu antecessor. Com uma atmosfera ensolarada e sangrenta, o segundo volume da trilogia tropeça para entreter com qualidade, mas consegue entregar uma porção de momentos satisfatórios para os saudosistas do cinema de horror.

    Quer ver mais críticas?
    Back to Top