Os amantes mal-assombrados
por Bruno CarmeloGunnar (Björn Stéfansson) e Einar (Sigurður Þór Óskarsson) acabam de terminar o namoro. A imagem de uma garrafa de vidro quebrando entre eles, em câmera lenta, representa a ruptura irremediável. Agora, separados, cabe fazer o luto da relação e seguirem em frente, certo? Errado. O roteiro de Crepúsculo tem outros planos para a dupla, no caso, fazer com que as dores sentimentais se reflitam no ambiente ao redor. Gradualmente, a dor amorosa se transforma num filme de terror, no qual uma pacífica planície islandesa fornece exaustivos elementos para matá-los.
A ideia é inusitada, e talvez funcionasse dentro de uma lógica metafórica e insinuada, algo próximo da fantasia. No entanto, o diretor Erlingur Thoroddsen trata cada elemento de terror como algo concreto, palpável. Os dois homens são confrontados a um número infinito de clichês do gênero: dezenas de vultos passando ao fundo do enquadramento, portas que se abrem sozinhas, cortinas voando ao vendo, uma cabana mal-assombrada, assombrações, serial killers, monstros embaixo da cama, tragédias naturais, casa abandonada, sonambulismo, traumas macabros da infância, vídeos de dentro da casa revelando que estão sendo observados etc.
O filme acredita que, quanto mais elementos adicionar, mais medo provoca. O efeito é o oposto: sem ter tempo para justificar cada aparição ou para construir a psicologia da dupla central, as intervenções assustadoras soam inverossímeis e cansativas. Cria-se o incômodo efeito de aleatoriedade: depois de tantos vultos e batidas anônimas à porta no meio da madrugada, o espectador pode crer que qualquer coisa vai acontecer. Afinal, pouco importa, já que ambos soam fadados à morte desde a cena inicial. É muito difícil se identificar com estes homens de atitudes incompreensíveis. Consequentemente, o terror que os aflige não contamina o espectador.
O roteiro demonstra um prazer sádico em provocá-los pelo medo e pela excitação sexual - ambos estão presos na cabana, com evidente desejo um pelo outro -, mas pretende postergar ao máximo a concretização destas pulsões. Além disso, a sensação de perigo alardeada a cada minuto soa pouco efetiva, porque nunca vemos o risco ser concretizado - em outras palavras, sugere-se a morte, mas não vemos, durante um bom tempo, uma única morte confirmando a seriedade da ameaça sobrenatural. O terror é ao mesmo tempo explícito demais e irreal.
Enquanto isso, a direção se delicia com obviedades (a trilha sinistra e onipresente, os sons de gritos no cômodo ao lado) e o roteiro trabalha símbolos pouco realistas, como as portas sempre abertas e os computadores ligados em cima da mesa com vídeos importantes esperando para serem vistos. A presença de uma vizinha simpática completa o humor involuntário, que seria muito mais eficiente caso se assumisse como tal. Pelo resultado, é difícil salvar algo de Crepúsculo - nem mesmo a representação LGBT, com uma incômoda sugestão de que homossexuais guardam um fetiche secreto pelo estupro.
Filme visto no 25º Mix Brasil, em novembro de 2017.