Jornalismo em crise
por Lucas SalgadoConhecido pelo trabalho nos cultuados Juno, Amor Sem Escalas e, mais recentemente, Tully, o diretor canadense Jason Reitman se especializou em obras sobre famílias e pessoas disfuncionais, que muitas vezes parecem às vésperas de uma crise pessoal. Seu novo filme, The Front Runner, até passa às margens destes temas, mas aqui o foco é mais político, algo que o cineasta não arriscava desde o sarcástico Obrigado por Fumar. Não há, no entanto, maior semelhança entre as obras, uma vez que o novo projeto é um drama.
A trama gira em torno de Gary Hart (Hugh Jackman), um carismático político norte-americano que é o principal candidato do partido Democrata para a disputa presidencial dos Estados Unidos em 1988. Ele está próximo de conseguir a nomeação de seu partido e é apontado por muitos como o futuro ocupante da Casa Branca. Tudo parece ir bem, até que um escândalo em sua vida pessoal é publicado nos jornais.
Em um cenário sem redes sociais e que o jornalismo era debatido em termos de ética, Gary acredita não ter que dar satisfação sobre sua vida pessoal, o que não é bem visto por seus apoiadores e funcionários. O roteiro de Reitman e Jay Carson mostra bem este conflito e trata de não julgar as atitudes de seu protagonista. Isso pode até fazer sentido do ponto de vista narrativo, mas, ao mesmo tempo, acaba perdendo no que diz respeito à identificação com os espectadores.
O cineasta acaba entregando uma obra fria, com um discurso preciso e uma defesa da ética e da integridade dos jornais. Mas passa às margens do debate sobre a integridade pessoal dos políticos. Há falas no sentido de que isso não deveria ser de interesse público. Mas será que não mesmo? Os poucos questionamentos de personagens neste sentido são abafados pela vontade de vender um discurso maior.
Jackman é carismático e talentoso, mas entrega um personagem menos complexo do que desejável. Ele passa bem a impressão de uma pessoa encurralada, mas a verdade é que não tem um texto tão bom em mãos. O elenco conta ainda com as presenças de nomes como Vera Farmiga, J.K. Simmons, Kevin Pollak e Sara Paxton.
Vencedor do Oscar pelo incrível trabalho em Whiplash, Simmons interpreta um importante assessor de Hart, o responsável por contestar sua atitude passiva diante da crise de imagem. Já Farmiga vive sua esposa, numa atuação competente e propositalmente fria.
The Front Runner tem elenco e premissa digna de premiações, mas algo ficou faltando. O que poderia ser um thriller político ou um drama sobre jornalismo acaba não sendo uma coisa ou outra. O fato de Gary Hart ser alguém praticamente sem representatividade fora dos Estados Unidos também não ajuda no despertar os interesse diante da obra.
Como a campanha presidencial de Hart, o filme promete muito, mas acaba tropeçando nas próprias pernas.
Filme visto durante o Festival de Toronto, em setembro de 2018