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    Procurando por Ingmar Bergman
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Procurando por Ingmar Bergman

    Resenha

    por Taiani Mendes

    Em virtude do centenário de Ingmar Bergman, aparentemente foi acordada mundialmente a realização de cem documentários sobre o lendário cineasta sueco, cada um abordando um aspecto de sua vida ou obra, de preferência. Brincadeira à parte, este Procurando por Ingmar Bergman se destaca na leva 2018 por ter uma boa justificativa e ser um longa de diretora, para diretor, com diretores, refletindo basicamente sobre direção. À recordista em participações em filmes sobre Bergman, Liv Ullmann, juntam-se Olivier Assayas, Mia Hansen-Løve, Jean-Claude Carrière, Carlos SauraRuben Östlund e Daniel Bergman, filho do "homenageado".

    A cineasta alemã Margarethe von Trotta se apaixonou por cinema por causa de Bergman, mais especificamente O Sétimo Selo, e essa afetividade cinéfila, aliada a um desejo de troca de figurinhas com colegas de profissão e bastante curiosidade, a leva a conversas bem descontraídas com pessoas relacionadas à sétima arte sobre Ingmar e sua obra. Ao invés de soar deslocada, a narração de von Trotta enche o filme de afeto, sentimento esse que transborda claramente também nas falas de Assayas.

    Terapia para quem faz, quem entra em contato e quem a discute, a arte revela muito sobre quem a produz, e em torno de tais leituras e identificações nos filmes de Bergman se desenrolam as conversas. Além de procurá-lo nos títulos, Margarethe complementa sua pesquisa com relatos sobre o seu comportamento atrás das câmeras, relacionamentos e frases de efeito disparadas em entrevistas. Tudo, no entanto, conectado ao que ele um dia colocou nas telas e nos palcos, seja o falecimento, a imaturidade, a falta de entendimento com os filhos, a solidão ou a arrogância.

    O fato de certas interpretações, anedotas e ângulos da Ilha de Fårö não representarem qualquer novidade é uma característica que poderia deixar Procurando por Ingmar Bergman aborrecido, não fosse seu raro interesse bem específico na realização, seu significado e sua influência, além da preservação da personalidade dos entrevistados em suas participações, como Ruben egocêntrico, Liv apaixonada, Assayas estudioso e a própria Margarethe extasiada entre a gratidão do início de tudo e o orgulho por ser a única mulher presente numa lista que Bergman fez de seus filmes favoritos (Os Anos de Chumbo). Única viva dos prediletos do mestre, von Trotta agradece evocando sua memória uma vez mais com carinho, inquietude criativa e cinema em primeiro lugar.

    Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro de 2018.

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