A Viagem de Pedro, da Globo Filmes, de 2022 (lançado em setembro), consegue ser ainda mais "arrastado" e lento do que os outros filmes dirigidos ou produzidos por Laís Bodanzky.
O primeiro "estranhamento" em relação ao filme é o "imbróglio" de várias línguas, onde há personagens que falam português, tanto com sotaque brasileiro quanto lusitano, francês, inglês, alemão (Leopoldina) e ioruba. Pedro e Amélia, entre si, se comunicam em dois idiomas diferentes, português (ela, com sotaque lusitano) e francês e os ex-escravizados ou escravizados usam várias línguas, dependendo das circunstâncias. Pedro e Miguel, como sabemos, são irmãos e passaram praticamente toda a infância e juventude no Brasil, no entanto, Pedro fala como brasileiro e Miguel como português! Ou seja, até em termos linguísticos é um completo nonsense.
Os figurinos chegam a ser caricatos, de tão pobres. Uma pequena consulta à iconografia da época mostraria que as golas todas, tanto masculinas quanto femininas, estão muito pequenas (como se ainda estivessem na década de 1820) e há pouco pano nas saias. As cores também não refletem o gosto da época de 1830.
Igualmente pobres são os cenários. Percebe-se que, devido certamente ao incêndio no palácio de São Cristóvão em 2018, o Solar da Marquesa de Santos e uma casa de fazenda qualquer, fazem o papel do Paço Imperial e, no extremo oposto, o "navio", igualmente pobre e feio, teria de ter o tamanho de um transatlântico moderno para comportar tantos ambientes e corredores...
Quanto ao enredo em si... Onde está a princesa Maria Amélia, filha de D. Pedro com D. Amélia? Se ele está impotente, como o filme insiste em reiterar, como a filha teria nascido em 1831?
Outra coisa: que final é aquele? Surreal, alegórico ou falta de orçamento para um final melhor mesmo?
Única virtude do filme: as fartas tomadas, tanto internas quanto dos jardins do Palácio de Queluz, em Lisboa. Lindo de se ver!
Em resumo: só assista mesmo se você quiser ver o Cauã Reymond como veio ao mundo, porque o filme em si é uma completa perda de tempo!