A minha visão sobre o
filme “Fátima, o último Segredo”.
“Amarás o Senhor teu Deus sobre todas as coisas”.
Adorar alguém ou alguma coisa que não Deus, é idolatria. Neste filme Nossa Senhora é adorara na verdadeira acepção da palavra.
------
Uma jornalista recebe uma encomenda para realizar um filme a partir de um guião. O filme começa, tentando relacionar a revolução bolchevique com Fátima.
Aparece uma senhora a dizer o que seria do mundo se os homens continuarem a pecar. Primeira ideia: nós é que somos os bons, os “outros” são os pecadores.
Depois uma frase lapidar: 2016 – Conversão da Rússia.
A jornalista diz que não vai à missa desde o acidente do marido. MISSA – vais, és bom, não vais, és pecador. (primeira noção de fundamentalismo).
Manuel Arouca, jornalista, em afirmação demagógica: “então aparece um anjo a três crianças e pede que se sacrifiquem e rezem pelos pecadores”. Então, pecadores não somos todos nós, inclusive estas três crianças? “Pecadores”, uma noção vaga (os outros).
O jornalista torna e diz que as crianças viram o inferno (como se pode afirmar tal coisa, se não se pode confirmar cientificamente? A afirmação é de três crianças a quem puseram um texto na boca para eles debitarem. Depois, o jornalista diz que as crianças não ficaram com medo. Não? Das duas, uma: ou o que disseram foi-lhes imposto pelo pároco e outros membros da Igreja, portanto não as assustando ou, a ser verdade, deviam estar TOLHIDOS DE MEDO. Impor a duas crianças inocentes um espectáculo tão incrivelmente dantesco, seria provavelmente de morrerem de medo, no verdadeiro sentido da palavra.
O que diz a Senhora? “Vou pedir a consagração da Rússia”. (Só da Rússia? E então da América? Da China?...De Portugal? Dá para crer que Nossa Senhora, de bondade infinita, mãe de Deus, só se tenha preocupado em converter e consagrar a Rússia? E os outros tantos países, muitos deles com sistemas tão tenebrosos como o tenebroso sistema da União Soviética? Dá para pensar no oportunismo político, do governo salazarista e religioso da Igreja Católica, desta afirmação posta nos lábios destas pobres e inocentes crianças. O jornalista continua muito convicto, a descrever o mistério do sol.
Depois vem um “consultor teológico”, (o que será isso?) que diz que os pastorinhos viram Nosso Senhor a dar a bênção ao mundo. Sem comentários…
Um professor catedrático fala dos erros da Rússia: pecado do ódio, da violência, da perseguição, da soberba... Só da Rússia??? Basta ver as notícias a cada dia…
Então chega João César da Neves, jornalista conotado com a extrema direita: “O regime de Hitler não se espalhou pelo mundo, (“só” matou largos milhões de inocentes) o comunismo, Sim”.
Mais um “da casa”: Manuel Duarte, Director do Serviço de Estudos do Santuário de Fátima: “A metáfora do mal, aqueles que se afastam de Deus”.
A seguir vem o Cardeal José Saraiva Martins, prefeito emérito da causa dos santos. (Mais um a molhar a sopa).
Mais uma vez, César da Neves faz uma afirmação milagreira: A guerra civil de Espanha não se propagou a Portugal devido à protecção de Nossa Senhora. (enquanto criança e jovem fui educado em que Portugal era um país maravilhoso, defendido debaixo do manto da Virgem, imune a guerras e revoluções. Ainda bem que assim foi, mas porquê este fatalismo? Fomos ensinados a nada fazer e deixar-nos conduzir por Nossa Senhora e por... Salazar. Agora, este senhor vem fazer renascer este conceito.
Depois, as mais variadas diatribes de fundamentalismo.
Ao acaso cito algumas:
1. “Nossa Senhora aparece ao exército bolchevique fazendo-o retirar-se”. Mais uma vez, a intercepção de Maria. Consagrando a Polónia à Virgem, a invasão comunista é evitada.
2. A Santíssima Trindade pede a Lúcia que interfira junto do Papa para consagrar a Rússia, em comunhão com todos os bispos do mundo. Pio XII não teve êxito por não o ter feito em comunhão com os bispos. Só depois, João Paulo II o consegue porque o fez unido a todos os bispos, muitos deles em espírito, pois não puderam estar presentes. (!!!!)
3. Um escritor americano afirma que não teria havido as II guerra se Pio XII tivesse consagrado a Rússia.
4. “Foi a Virgem que evitou a guerra em Portugal”. Não foi Salazar (honra lhe seja feita) ou a distância do nosso pobre país, na cauda da Europa, que motivaram o desinteresse dos grandes países por este cantinho pobre, sem riquezas minerais (quantas vezes a mola de tantas guerras).
5. Mais uma de César da Neves: “o Padre Pio fica curado de repente quando apela à estátua da Virgem quando esta passa no helicóptero sobre a sua janela”. Será que este senhor ainda julga que as pessoas acreditam nestas afirmações plenas de infantilidade?
6. “Na guerra fria a Virgem evita uma guerra nuclear em 1963”. Não foi a grande coragem de Kennedy que bateu o pé à Rússia na famosa crise dos mísseis de Cuba...
7. Em 1975 a Lúcia pede à Virgem para terminar com a revolução comunista em Portugal. Maria diz: “quando houver um milhão de famílias portuguesas a rezar o terço, a revolução acabará”. Uns tempos depois, Lúcia “telefona” a Maria e diz-lhe que já há um milhão a rezar. “Então, por minha interferência, a revolução comunista vai acabar. Não precisais do Mário Soares para nada. Eu cá, trato do Cunhal”.
8. Segundo mais uma informação importante do relator, “a reza do terço também pode resolver pequenos problemas pessoais”. A fé transformada em crendice.
9. “A Rússia encomenda a morte de João Paulo II”. Mas o tiro foi desviado pela Virgem, não foi a aselhice ou precipitação do Ali Agra.
10. O terrível 3º. segredo, tão guardado por tantos anos, (todos esperavam que fosse uma 3ª guerra, ou qualquer outra tragédia do tipo dos dois anteriores). Afinal, assisti atónito ao vivo na TV, o segredo limitou-se à tentativa de assassinato de um papa, que a Virgem protectora evitou.
11. João Paulo II: “Obrigado, Celeste Pastora por teres desviado, com carinho maternal, os povos para a liberdade”. Sem dúvida, desde essa altura a liberdade reina no mundo.
12. Depois vêm as afirmações “naif”:
a) Uma velhota a dizer que reza muito, mas que os homens não se querem emendar. (Ela é que é boa).
b) A freirinha a falar dos “pecados da carne” que são, segundo a Virgem, os que mais levam ao inferno. O que sabe ela disso? Porque não o pecado do peixe, ou o pecado do bacalhau? Esta vai direitinha para o Céu. E ainda: “a Virgem sentou-se nesta cadeira e falou a Jacinta”. Que ingenuidade!
c) “Maria escolheu o único povoado português com nome árabe”. Único? Só? Veja-se a resposta em https://pt.wikipedia.org/wiki/Top%C3%B3nimos_%C3%A1rabes_em_Portugal
Depois de tantas afirmações fundamentalistas, a cereja sobre o bolo é a pagela de Nossa Senhora que a amiga da jornalista pusera no capacete do filho, salvando-o. Ela, acreditando finalmente no milagre, aceita pagar a aposta do jantar ao amigo.
Por fim, a afirmação do jornalista: “O mundo não se converteu. O pecado continua aí”. Este, como a freirinha, há-de ir direitinho para o céu. Já tem as asas. Ele não peca. Nem pela carne nem pelo orgulho.
Para completar o ramalhete, aparece o Juan Maria Escrivá, criador de uma seita tenebrosa que alienou e destruiu a vida de muita gente, como pude observar num casal argentino que conheci em Espanha.
Concluindo:
Todos têm direito a acreditar naquilo que acreditam. Temos de respeitar a fé de cada um. E, seguramente muitos o fazem com fé total.
Mas uma coisa é ter-se a liberdade para isso, fazendo-o conscientemente. Outra é ser-se “modelado”, por “mensagens” como a que nos é transmitida pela Igreja Católica sobre Fátima, bem representadas neste filme de qualidade inferior.