Sabe aqueles filmes leves a que você assiste e, ao terminar, percebe que não é nada demais! Porém, um fluido, uma inspiração, um entusiasmo é criado, e você sai da sala de cinema querendo agir? Pois bem… eu terminei “Gloria Bell”, em cartaz nos cinemas da capital, querendo dançar! Isso mesmo, pode rir! Na verdade, melhor: veja o filme e me conte se não terá a mesma vontade.
Na história do mais novo longa do diretor latino Sebastián Lelio (dos ótimos “Desobediência” e “Uma Mulher Fantástica”), uma mulher sozinha e feliz, no alto de seus 50 anos e de espírito totalmente livre, vivida pela unânime Julianne Moore, ocupa suas noites buscando diversão, música e amor em boates para adultos solteiros em Los Angeles, nos EUA.
O roteiro bem-escrito deixa claro que a protagonista é excentricamente normal, uma cinquentona convicta como muitas que você vê por aí. Trata com detalhes e cuidado vários elementos banais do cotidiano. A rotina dançante na boate, o trabalho chato e maçante no escritório, as aulas de ioga, a terapia do riso, a ajuda pra amiga que está prestes a ser despedida, a conversa entre um susto e um grito enquanto a virilha é depilada, a cantoria e os sorrisos dentro do carro enquanto dirige, o gato da vizinha que entra no apartamento toda hora, o vizinho louco que não para de gritar e a atrapalha a dormir, a busca incessante pela atenção dos filhos adultos… tudo é colocado de uma forma muito natural, deixando claro que Gloria é uma mulher normal, autossuficiente e corajosa. E que nada a impede de ser feliz, de buscar a sua intensidade e seu movimento tão necessários para seguir em frente.
Porém, há uma mudança repentina nessa intensa e frágil felicidade quando ela conhece Arnold (John Turturro), um cara com filhas problemáticas e uma ex-mulher mais problemática ainda, a quem ela finalmente consegue se entregar e se apaixonar novamente. Sua rotina dá uma certa mudada, e essa paixão a deixa alternando entre a esperança e o desespero, pois, sinceramente, ninguém aguenta homem velho de guerra malresolvido, não é mesmo? Então, ela descobre uma nova força e, surpreendentemente, vai conseguir brilhar mais do que nunca.
Sem abandonar a música um minuto sequer (o filme se passa nos dias atuais, mas a trilha dos anos 70 e 80 é tão presente quanto saudosista e empolgante), Gloria dá um show de determinação e superação no dia a dia mesmo. Ela mostra que é igual e diferente de muitas ao mesmo tempo, sabe? E isso é encantador, inspirador!
É como eu disse no início do texto: o filme trata de uma vida cotidiana normal, mas te instiga de alguma forma, te faz sorrir, te faz lembrar que não basta só viver, é preciso se movimentar, se remexer, se divertir! Não é nada demais, eu sei, mas se prepare porque Gloria Bell vai te obrigar a sair do cinema e procurar um música pra ouvir, um lugar pra dançar, um sentimento pra sentir. Nossa força diária provém daí! É assim que ela faz, e é assim que você quer fazer também!