A graça no exagero
por Barbara DemerovNão se engane com o pôster do filme: apesar de se ambientar em 1809, O Retorno do Herói é elegante apenas em seu visual, que se contrasta com um roteiro sempre beirando ao cômico e a atuações marcadas pelo excesso – o que não é algo negativo, pois é justamente por conta deste tom de deboche que o filme consegue divertir.
Laurent Tirard dirige uma história dinâmica, cheia de reviravoltas e que já se inicia de modo ágil, deixando claro que, diferente de adaptações cinematográficas da obra de Jane Austen, a elegância e ternura não são o enfoque da narrativa. A montagem, por vezes bem acelerada, não tarda a deixar claro todo o contexto dos personagens, o que auxilia o aproveitamento dos divertidos e inusitados desdobramentos.
A trama principal não busca inovar ou ultrapassar padrões: dois personagens se odeiam mas precisam agir em dupla para manter a tranquilidade de uma família e dos moradores de uma pequena cidade. O capitão Neuville (Jean Dujardin) e a jovem Elisabeth (Mélanie Laurent) formam uma dupla cativante e completamente oposta. No entanto, a mentira entra no meio dos dois, pois Neuville, que voltou para casa depois de anos, não é mais do exército... e ninguém além de Elisabeth sabe disso. Durante os anos de sua ausência, ela precisou se tornar uma "ghost writer" do próprio a fim de manter a tranquilidade de sua família.
A união de ambos se intensifica à medida em que as falsas histórias que Elisabeth escreveu sobre as "aventuras" de Neuville pelo mundo ganham mais atenção, e é neste ponto que O Retorno do Herói diverte mais: nas atuações da dupla formada por Dujardin e Laurent. Ambos estão mais do que confortáveis em seus personagens – com destaque para o estilo picareta e caricato do ator, já vencedor do Oscar.
A comédia às vezes se extravasa em piadas ou ações inusitadas, mas no geral não há nada extremamente incômodo na maneira como a narrativa é conduzida. Contudo, estas pequenas derrapadas no humor acabam sendo esquecidas quando a tentativa de inserir um romance entre os protagonistas dá as caras, o que realmente não faz sentido devido a todas as escolhas feitas por ambos.
A relação entre Neuville e Elisabeth é bem construída e o intuito de estimular o debate feminista através da forte personalidade da jovem é interessante e cabível. Uma pena que toda a estruturação desta relação entra dentro de um lugar-comum de forma nada natural, o que tira boa parte da força no terceiro ato e torna Elisabeth um tanto quanto contraditória.
O Retorno do Herói funciona de modo geral como uma comédia atrevida e por vezes nada cortês, ao contrário do que o figurino e as ambientações indicam. O que tira o tom despretensioso é a escolha de alguns clichês que poderiam facilmente ser descartados, tornando a história mais simples do que poderia ser, especialmente em seus minutos finais.