Para falar de sexo
por Bruno CarmeloVivian, Diane, Sharon e Carol são quatro amigas inseparáveis. Elas são ricas, brancas, possuem boa saúde e trabalhos estáveis, de modo que o único conflito diz respeito à vida afetiva. Seguindo uma dinâmica muito próxima de Sex and the City, o roteiro desta comédia dramática cria quatro personalidades complementares: uma mulher que só pensa em sexo, mas jamais quer ter um compromisso a longo prazo (Jane Fonda), outra ocupada demais com a vida profissional para se dedicar aos romances (Candice Bergen), outra ingênua e sonhadora (Mary Steenburgen) e aquela que reúne o grupo, além de ser a narradora da história (Diane Keaton).
O quarteto se reúne sob o pretexto de um Clube do Livro, que jamais parece muito verossímil - nunca se discute literatura nessas reuniões. Mas elas conversam, e muito: a dinâmica passa essencialmente por diálogos, nos quais as personagens confrontam suas visões de mundo e trazem à tona os conflitos morais e geracionais: ainda é tarde para pensar em sexo depois dos 60 anos? É possível encontrar um novo amor e fazer planos para o futuro, ou reacender a chama de um casamento entediante? Pegando o exemplo do namoro entre Christian Grey e Anastasia Steele - mas quando, afinal, mulheres e homens vão parar de romantizar esse relacionamento abusivo? - elas decidem ser mais ousadas no sexo e no amor.
O aspecto positivo deste projeto se encontra na maneira como o diretor Bill Holderman consegue rir com estas mulheres, ao invés de rir delas. Ainda que constituam estereótipos, cada uma é respeitada em seu corpo e seus desejos. As novas gerações são vistas como conservadoras, a exemplo das insuportáveis filhas de Diane, enquanto as protagonistas querem se divertir, viajar, beijar, fazer sexo. As atrizes são eficazes em seus papéis: Mary Steenburgen e Candice Burgen extraem humor de pequenas cenas de constrangimento universal - a proposta do sexo, o medo da rejeição - e Jane Fonda está muito confortável reproduzindo basicamente o mesmo papel nos últimos dez anos. Diane Keaton abusa dos tiques e da gesticulação, mas nada que atrapalhe o conjunto.
De certo modo, o humor em Do Jeito que Elas Querem nasce da comparação das quatro mulheres idosas com pré-adolescentes: elas têm medo do sexo, de chegar no homem desejado, de serem rejeitadas. Não sabem como se vestir, se maquiar. Estamos a um passo de um tom depreciativo, por infantilizar o grupo sem considerar suas experiências de vida. No entanto, o filme faz questão de se manter solar, leve. É claro que todas elas atravessam um problema amoroso ao mesmo tempo, é claro que o roteiro soluciona todos estes conflitos magicamente, ao mesmo tempo. Não existe naturalidade neste cenário previsível e alegremente artificial. Tampouco se pode esperar sexo no filme que tanto fala de sexo, ou mesmo uma amargura normal do envelhecimento e do medo da morte, como em Um Divã Para Dois.
A estética contribui para este otimismo a qualquer preço: os cenários e figurinos adotam cores pastéis, a luz prefere tons lavados ao contraste intenso, a música feel good trata cada cena como um spot publicitário de livros, vinhos ou sites de encontro na Internet. Eventuais projeões em tela verde e montagens fotográficas são sofríveis, mas toleráveis dentro de um projeto tão distante do realismo. A mensagem final pode incomodar espectadores progressistas, por sugerir que a felicidade de uma mulher, independente da idade, depende de um par romântico estável, rico e branco. Mesmo assim, este cinema acessível a qualquer idade (é provável que se torne um sucesso na televisão e em home video) serve a homenagear a sexualidade feminina pós-menopausa - por mais que a singela homenagem venha de um diretor homem.