(Insta - @cinemacrica)
É sob um olhar sensível que Yen Tan diferencia uma obra que poderia ser apenas mais uma repetição de temáticas exploradas à exaustão. Década de 80, EUA, conservadorismo. Nesse contexto, Adrian retorna de Nova Iorque para passar o natal com a família no Texas. O jovem que havia se mudado por conta do trabalho, após alguns anos, reencontra a hostilidade de normas sociais rígidas que anulam qualquer esboço de prazer natalino ou manifestações positivas relacionadas à saudade.
O conflito, num primeiro momento, aparenta residir no plano incompatível de alguém sensibilizado por experiências abertas comuns a grandes cidades em oposição aos que são passivamente doutrinados. No entanto, a divergência de pontos de vista é o prenúncio de algo ainda mais intragável para um meio social intolerante. Apesar de constar em algumas sinopses e críticas, prefiro não esmiuçar as revelações decorrentes desse reencontro. Minha experiência teria sido ainda melhor se tivesse assistido ao filme sem leituras prévias.
Na realidade, o mérito não está na criatividade dos fatos que omiti, mesmo porque são simples, mas na fluidez e humanidade com que Tan evolui a narrativa. A rigidez é quebrada com a inserção da família como elemento receptor das particularidades de Adrian. As reações se manifestam de forma própria a cada um dos membros: mãe, pai e irmão. Cada reação, exprimidas a partir da escolha de episódios assertivos, quando colocadas numa perspectiva agregada, evidenciam a capacidade da diretora em sensibilizar de forma rica um tema tão comum e infelizmente ainda delicado. Cory Michael Smith, como protagonista, é brilhante em carregar o fardo da incompatibilidade em meio a um dissimulado reencontro feliz.
O preto e branco aqui não é gratuito. Privilegiando a luz baixa, a ambientação reforça a infertilidade do antigo lar de Adrian em receber influências periféricas ao status quo. É uma atmosfera que neutraliza a felicidade, mesmo no natal. Filme sensível, humano e bem dirigido.