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Rodrigo Gomes
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861 críticas
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4,0
Enviada em 9 de março de 2019
Um roteiro intenso permeado de sutileza em cada detalhe, diálogo e até mesmo em sua apresentação bicolor. Toda a repressão e dor do protagonista é sentida em cada momento com sua ótima atuação. A rapidez do longa nos imprime um grande contexto social da época.
(Insta - @cinemacrica) É sob um olhar sensível que Yen Tan diferencia uma obra que poderia ser apenas mais uma repetição de temáticas exploradas à exaustão. Década de 80, EUA, conservadorismo. Nesse contexto, Adrian retorna de Nova Iorque para passar o natal com a família no Texas. O jovem que havia se mudado por conta do trabalho, após alguns anos, reencontra a hostilidade de normas sociais rígidas que anulam qualquer esboço de prazer natalino ou manifestações positivas relacionadas à saudade. O conflito, num primeiro momento, aparenta residir no plano incompatível de alguém sensibilizado por experiências abertas comuns a grandes cidades em oposição aos que são passivamente doutrinados. No entanto, a divergência de pontos de vista é o prenúncio de algo ainda mais intragável para um meio social intolerante. Apesar de constar em algumas sinopses e críticas, prefiro não esmiuçar as revelações decorrentes desse reencontro. Minha experiência teria sido ainda melhor se tivesse assistido ao filme sem leituras prévias. Na realidade, o mérito não está na criatividade dos fatos que omiti, mesmo porque são simples, mas na fluidez e humanidade com que Tan evolui a narrativa. A rigidez é quebrada com a inserção da família como elemento receptor das particularidades de Adrian. As reações se manifestam de forma própria a cada um dos membros: mãe, pai e irmão. Cada reação, exprimidas a partir da escolha de episódios assertivos, quando colocadas numa perspectiva agregada, evidenciam a capacidade da diretora em sensibilizar de forma rica um tema tão comum e infelizmente ainda delicado. Cory Michael Smith, como protagonista, é brilhante em carregar o fardo da incompatibilidade em meio a um dissimulado reencontro feliz. O preto e branco aqui não é gratuito. Privilegiando a luz baixa, a ambientação reforça a infertilidade do antigo lar de Adrian em receber influências periféricas ao status quo. É uma atmosfera que neutraliza a felicidade, mesmo no natal. Filme sensível, humano e bem dirigido.
O filme prima por excelentes atuações do próprio protagonista Cory Michael que imprimiu ao Adrian uma personalidade sensível e sutil, Virginia Madsen e a ótima surpresa que foi Aidan Langford como seu irmão Andrew ( oprimido em suas indecisões ) numa cidade pacata e com seus pais conservadores e religiosos, sem liberdade em dividir suas angústias e medos. A fotografia do filme em preto e branco nos remete a uma nostalgia da época sombria em tempos de AIDS, onde o preconceito era extremamente presente.
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