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    Lá Vêm os Pais
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    Lá Vêm os Pais

    Uma questão de orgulho

    por Francisco Russo

    Adam Sandler é um caso particular, dentro da indústria cinematográfica. Amado e odiado por muitos, ele se estabeleceu como intérprete de um personagem só, o americano médio grosseiro e de bom coração - uma espécie de Homer Simpson live-action, por assim dizer -, que sofre pequenas variações a cada novo filme. Para manter a mesma persona, criou sua própria produtora e, vez ou outra, até mesmo escreve os roteiros em que atua. Ao assinar contrato com a Netflix, praticamente desapareceu das telas de cinema para assumir o posto de astro maior da companhia, que desfruta com exclusividade suas últimas produções - para o bem e para o mal.

    No streaming, Sandler segue fazendo a mesma comédia que o consagrou nas telonas, apelativa e repleta de preconceitos. Em Lá Vêm os Pais não é diferente. Há um punhado de situações grotescas envolvendo um personagem deficiente, em uma pífia tentativa em fazer rir da infelicidade alheia, além de uma situação cretina envolvendo negros, acusados de "serem todos iguais devido à cor da pele". O sorriso ingênuo tenta ser um atenuante, também cretino, ainda mais diante da gravidade do exibido.

    Dito isso, a história de Lá Vêm os Pais envereda pela clássica jornada de trapalhadas envolvendo os preparativos de um casamento. Aqui, a responsabilidade pela organização - e custo - recai justamente em Sandler, o pai da noiva, que por orgulho se recusa a aceitar ajuda, de quem quer que seja. Tudo de forma supostamente bem-humorada, ressaltando o último presente que deseja dar à filha - o que por si só é outro preconceito, em relação à necessidade de entregar uma mulher a outro homem. O roteiro, por sua vez, facilita tal concepção ao apresentar o pai do noivo, Chris Rock, como um médico elitista e garanhão, que deu pouca atenção aos filhos. Ou seja, a vilanização do "rival" serve justamente para maquiar o peso do orgulho nesta narrativa.

    Diante de tantos equívocos e manipulações, o que chama a atenção é a narrativa escolhida para apresentar esta história pra lá de batida. O diretor e corroteirista Robert Smigel opta por um estilo documental, abdicando da trilha sonora de forma a transmitir um olhar supostamente mais íntimo das famílias dos noivos. A luminosidade excessiva, sempre estourando a cada janela aberta, amplia tal sensação, por mais que haja uma clara perda de qualidade visual. Ainda assim, tal proposta estética não resiste aos exageros do roteiro.

    Com Sandler reinando absoluto em cena, pouco espaço sobra para Chris Rock - seria um tremendo exagero chamá-lo de coestrela desta comédia. Sem liberdade para imprimir seu humor taquicardíaco sem papas na língua, ele faz o que pode em um personagem bastante limitado. Pior ainda é Steve Buscemi, cuja participação deve apenas ser creditada à longa amizade que tem com a estrela-maior da companhia. Mais do que uma atuação preguiçosa, Buscemi se rende a um personagem que beira o patético.

    Extremamente cansativo, Lá Vêm os Pais é um típico filme de Adam Sandler, daquelas comédias genéricas que ele faz aos montes. Para o bem e para o mal.

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