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    A Menina Índigo
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    A Menina Índigo

    Boas intenções

    por Francisco Russo

    Existe um filão no cinema que investe não propriamente na excelência, mas nas mensagens transmitidas. Não importam falhas de roteiro, diálogos pobres, uma produção capenga ou atuações caricatas, desde que as boas intenções por trás compensem tais problemas. A Menina Índigo, novo trabalho do diretor Wagner de Assis - o mesmo de Nosso Lar -, vai neste caminho.

    Estrelado pela carismática Letícia Braga, de Detetives do Prédio Azul, o longa gira em torno de uma garota de sete anos que, simplesmente, não tem o menor interesse na escola por não se reconhecer no local. Extrovertida e sincera, ela manifesta sua sensibilidade através da pintura, salpicando tinta por paredes e telas, onde quer que esteja. A questão é que tal postura nem sempre é bem compreendida, não só pelos professores mas também pelos próprios pais, o que ela levanta questionamentos sobre se ela teria algum problema emocional.

    A partir da questão do diferente, Wagner ensaia um debate pertinente acerca da criação infantil no sentido de dar liberdade para a expressão de sua personalidade. Por mais que não se aprofunde no assunto, a mentalidade em controlar comportamentos a partir de medicações é uma realidade Brasil afora, na ânsia em buscar respostas rápidas que não dêem muito trabalho. Este, no entanto, não é propriamente o enfoque de A Menina Indigo, mas sim a existência de crianças especiais que, além de terem uma consciência mais justa sobre o mundo, ainda são capazes de curar pessoas. Tudo baseado não apenas na consciência em fazer o certo, mas também na própria fé.

    Diante de tal proposta, é até mesmo óbvio que A Menina Índigo assuma um viés ingênuo que evite confrontos, especialmente científicos. Entretanto, o que espanta de fato é a construção canhestra da ambientação em torno dos personagens, todos estereotipados ao extremo. Se a separação dos pais automaticamente o torna infelizes, é espantoso reparar na desenvoltura caricata do lado jornalista do personagem de Murilo Rosa e, mais ainda, no contraste existente no discurso repetido de defesa da informação em contraponto à preocupação constante não se o pai estaria envolvido em falcatruas, mas se há provas de sua culpa. Isto em um cenário absolutamente naturalista, como se não houvesse qualquer contradição entre o dito e o feito.

    A bem da verdade, tanto a subtrama dos jornalistas quanto a dos empresários é muito ruim, não só pelos estereótipos adotados mas por certas soluções inacreditáveis - que o diga a pasta com documentos comprometedores, onde aparece escrito Brasília. Não há em A Menina Índigo o menor interesse em ao menos soar coerente, o que de certa forma até mesmo enfraquece a mensagem principal acerca de boas intenções e crença religiosa. Soma-se a isso um punhado de sequências extremamente mal dirigidas, seja pelo ângulo de câmera escolhido ou pelos diálogos engessados e pouco convincentes, que pioram ainda mais a situação.

    Em meio a tantos problemas estruturais e de execução, cabe à desenvoltura da jovem Letícia Braga o fardo de manter algum interesse no filme. Ainda assim, sua personagem se vê diante de várias situações simplórias que minimizam o interessante aspecto da liberdade de criação, ensaiado no longa-metragem antes de enveredar pela possibilidade da cura através da fé. Em relação ao elenco, Murilo Rosa faz o que pode em meio a tamanha bagunça, enquanto os demais atores têm participações ínfimas e irrelevantes.

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