Especial para TV
por Lucas SalgadoO documentário Belo Monte - Um Mundo Onde Tudo É Possível está chegando aos cinemas brasileiros, mas a estreia poderia facilmente acontecer em outra plataforma: a TV. Isso está evidenciado desde o início, quando nos deparamos com a logomarca da GloboNews dentre os produtores. É um produto claramente com viés televisivo, que poderia facilmente fazer parte de um Globo Repórter.
Se apoiando desde os primeiros instantes em uma narração tradicional, o longa segue de forma didática e pouco arriscada abordando a polêmica construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que vem sendo debatida desde a década de setenta e que só veio a ser inaugurada em 2016.
Não evitando deixar de claro sua opinião, usando o máximo de adjetivos possíveis para isso, o longa mostra um pouco do maior canteiro de obras do mundo, que gerou emprego temporário para milhares de pessoas, ao mesmo tempo em que desestabilizou a realidade local da cidade de Altamira, no Pará. Neste sentido, é interessante que o filme não foque sua atenção somente no impacto ambiental da obra, mas também demonstrando a questão social na região, que viu uma maior presença da violência, do tráfico de drogas e da prostituição.
Tentando manter uma postura jornalística, o longa dirigido por Alexandre Bouchet também escuta responsáveis pela obra e abordam a importância da mesma para a energia no Brasil. Às margens do rio Xingu, a Usina aumenta em 10% o potencial de energia do país.
Mas o foco principal está mesmo no que o próprio filme chama de "paraíso condenado", com a destruição sem piedade da flora e fauna locais. É um retrato abrangente, mas ao mesmo tempo disperso. Ou seja, mostra famílias desapropriadas, índios prejudicados pelo impacto ambiental, engenheiros e funcionários da obras e pessoas que vivem ao redor da obra, tentando se beneficiar ao máximo economicamente. Mas tudo é muito jogado, muito disperso. Por exemplo, mostra uma invasão de índios na obra e não conclui a história, pula para outro foco.
É uma obra polêmica e o documentário consegue tratar de forma ampla, dando um apanhado geral. No entanto, não apresenta nada de novo do ponto de vista narrativo e cinematográfico. É um especial para TV. Que, por acaso, está nos cinemas.