“Matrix Resurrections” e a revelação do ser
Neo (Kaenu Reaves) consulta o seu terapeuta. O terapeuta diz que a realidade que o paciente descreve só existe na cabeça dele. Neo é um desenvolvedor de jogos, e seu sucesso se deve a Matrix, que é lembrado pela comunidade, além de sucesso nos games. Neo consegue descobrir em um local chamado VR (realidade virtual) que seu antigo amor, a Trinity, está casada e com filhos, tentando a reconectar a realidade verdadeira, fora da Matrix. Trinity chega a desconfiar, mas apenas percebe uma leve sintonia com o rapaz, não chegando de início ao matrimônio perfeito, a união de yin e yang dos chineses, o segredo da energia, o Tao, ou caminho para o Divino. O filme mostra muitas outras coisas, como a frase em determinado momento em uma placa: “Conhece-te a ti mesmo”, o que mostra a grande carga filosófica da produção.
No quarto 1313, que tanto nos lembra da morte do Tarô, carta número 13, ou de um renascimento, ressurreição, na verdade, e que alguns dizem ser um número referente ao “messias”, anunciado por “Donos do Mundo”, para uma pseudo-revelação das Sagradas Escrituras, em manipulação de programas mentais e as colocando numa simulação, chamada Matrix. No filme, esse mundo de ilusão, ou maya indiano, é vivido pelas pessoas alienadas, zumbis ou NPCs, pessoas não “jogáveis”, logo sem controle do seu destino, e nem consciência dele. Um gnóstico disse que é necessário despertar a consciência, pois nem temos a consciência. Os cabalistas dizem que vivemos na ocultação do Criador, chamada “mundo”, e então o homem não tem alma, mas precisa construir ou reconectar a sua alma, a Alma do Criador. Matrix mostra tudo isso e um pouco mais, apesar da versão do programa ser uma nova, ou IAO (antes Zion), o que também leva a pensar na divindade gnóstica. O conhecimento é a chave, o despertar da consciência, livre das ilusões desse vale de lágrimas, a que pessoas acham ser a realidade. O caminho é o jardim ou paraíso, e lá não há mais doenças, dor, pecado etc. Os agentes parecem algo semelhante a arcontes, tendo ao mesmo tempo o governo, e ensinando algo as pessoas, mas as mantendo aprisionadas. Curioso que há a revelação que não há escolha, e que estar entre a pílula azul ou vermelha, indifere. Fato é que escolas antigas dos mistérios dariam a chave para certo se escolher, na iniciação, e certamente o iniciado escolheria a pílula da realidade, da verdadeira realidade de seu ser.
Então se chega a conclusão de filósofo Hegel, que “o real é racional e o racional é real”, e de Parmênides, de que “o ser é e o não-ser, não é”. O filme tem mais detalhes, e o terapeuta também tem um papel importante em atrapalhar a trajetória do Neo, (ele controla a Matrix...), ampliando mais a ilusão, quando coloca o mundo material como a verdade e realidade última, lembrando o materialismo de nosso tempo, e dizendo ele que 99% que define nossa realidade é desejo e medo, ainda segurando uma maçã (fruto proibido...). As pessoas estão iludidas em uma vida adormecida em consciência, longe do ser, em verdadeiros destinos manipulados e iguais, apenas mudando o rosto. O filme mostra algo mais próximo de nós que no primeiro, uma vez que estamos entrando no Metaverso, e que todos têm redes sociais, coisa que na época do primeiro não era uma realidade, e nem estávamos tão inseridos no virtual como hoje. Neo se une ao seu amor, Trinity, e assim se une água e fogo, ou as dualidades, revelando a energia (kundalini, ou serpente de fogo). Matrix resurrections parece indicar uma continuação, e esta possivelmente tratará da energia que move todas as coisas. Um filme de modo equivocado desvalorizado pela crítica.
Mariano Soltys, filósofo e advogado