Matrix 4 - superficial, autorreferente e novelesco
Matrix 4 só tratou, basicamente, de um tema: amor. Até poderia parecer algo interessante, se não fosse o fato de que até esse próprio tema restou seco, novelesco, piegas. Além disso, todo demais enredo é apenas autorreferencial, citando a trilogia anterior a todo momento, seja colocando em uma tela dentro do próprio filme imagens anteriores, seja repetindo mesmo as cenas ao estilo nostálgico.
Como o mundo de hoje, que é líquido, superficial, colorido, o “Matrix Resurrections” ressurge ao estilo mais “parque de diversões” do Tiktok e Instagram: com piadinhas sem qualquer graça, muitas cores na tela e querendo chamar atenção dos seguidores.
As lutas são fraquíssimas (repetindo gestos da trilogia anterior), os cenários são cansativos, as conversas mais íntimas parecem de novela… Aquilo que poderia ser interessante (naquilo que toca a uma abordagem psicológica do próprio Neo) nada mais passa de uma conversa de coaching pessoal ou de psiquiatra barato.
O ator Keanu Reeves, assim como seu personagem Thomas Anderson, parece estar dormindo grande parte do filme. Apático, por vezes até sem noção do tempo e do espaço, longe de ser o escolhido de épocas anteriores.
Religião zero, filosofia zero, mitologia zero, psicologia zero, política zero, sociologia zero… só “takes” e mais “takes” autorreferenciais. A originalidade da trilogia anterior restou longe desta quarta versão mal ressuscitada.
Se há algo de positivo? Tirando o fato de que contei os minutos para acabar essa novela em forma de filme, o único momento digno de um pouco de atenção é a cena de parada de tela com movimento de apenas um personagem, porém copiado escancaradamente ao estilo do filme do “X-Men: Apocalipse” (ver a ótima cena, essa sim, de Mercúrio salvando os mutantes da explosão na casa, ao som de “Sweet Dreams”).
Aliás, falando em sonoplastia, o efeito sonoro é ridiculamente fora de encaixe. Às vezes faltando som em algumas tomadas (principalmente nas conversas mais íntimas), outras vezes exagerando no drama, sem compasso com a própria imagem que cobre (principalmente nas lutas).
A morte de Neo e Trinity no Matrix 3 (“Revolutions”) e o reinício do programa são finais muito mais honrosos do que essa revisão feita baseada “na força do amor” e com final “e todos viveram felizes para sempre”… e ressuscitados, diga-se.
Por isso, apenas uma sugestão para salvar essa história mal revisada: tome a pílula azul e esqueça que existiu essa quarta realidade de Matrix.