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    Permanecer Vivo - Um Método
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Permanecer Vivo - Um Método

    Arte e loucura

    por Bruno Carmelo

    “Um poeta morto não escreve. Por isso a importância de permanecer vivo”. Esta constatação tão mordaz quanto óbvia é proferida pela grave voz de Iggy Pop, mas foi extraída do livro "Rester Vivant", do escritor francês Michel Houellebecq. A obra literária, inspirada no estudo de patologias psiquiátricas, analisa o sofrimento como matéria essencial à vida, e também à criação artística. Para quem espera frases de autoajuda, o livro fornece o oposto, uma espécie de niilismo autoconsciente, ressaltando que a vida não vai melhorar, que a sociedade é realmente uma droga, mas ainda assim é melhor evitar o suicídio se possível.

    De acordo com a premissa divulgada à imprensa, Iggy Pop teria adorado o texto e aceitado participar deste curioso projeto que se anuncia como documentário, embora contenha partes abertamente fictícias. Uma delas é o cantor posando para a câmera em cenários arranjados, outra diz respeito às intervenções digitais do diretor Erik Lieshout (com sobreposições, acelerações, contorcionismos da câmera, personagens duplicados). Por fim, a maior ficcionalização surge da criação de personagens: junto de pacientes psiquiátricos reais, expondo suas dores e sua relação com a arte, o filme pede a Houellebecq que interprete um sujeito fictício, Vincent, suposto escritor solitário de tendências suicidas.

    Permanecer Vivo – Um Método surpreende pela pluralidade de formas e registros. Em míseros 70 minutos, a direção combina letreiros, filmagens em plongée dentro de um quarto de hospital, Iggy Pop cantando sobre os palcos e dentro de sua casa, artistas sofredores (psicóticos, bipolares, esquizofrênicos) compartilhando as suas dores, todos os personagens reunidos caminhando numa grande avenida vazia enquanto a câmera sobe numa grua... É difícil saber que estilo se pretende adotar, e em quem devemos acreditar. Assim como Vincent é um personagem roteirizado, o que nos garante que os demais não o são? Quem diz que o sofrimento retratado é real?

    O resultado convida à descrença, sentimento indesejável num documentário. Não há problema em brincar com os sentidos ou interpretações, contanto que o mecanismo seja desvendado pela direção durante o projeto (caso do brasileiro Terra Deu, Terra Come, por exemplo). Mas este projeto híbrido mantém suas dúvidas ao longo de toda a projeção. Talvez a intenção seja encontrar uma representação à altura da confusão mental daquelas pessoas – caso sejam, de fato, sofredoras de alguma patologia – mas para o público, a sensação é de caos, de uma dispersão tão grande que prejudica a fruição do conteúdo.

    Sobram belos momentos de Iggy Pop melancólico, posando para a câmera a dois metros de seu corpo, como não se soubesse que ela está lá. O showman sabe entoar os versos de Houellebecq com grande intensidade, sabe atuar muito bem quando encontra o falso Vincent e descobre a suposta obra de arte secreta do escultor. São brincadeiras interessantes, mas que não passam disso: brincadeiras. Permanecer Vivo - Um Método gosta de desconstruir sentidos, criar bifurcações, mas revela-se incapaz de construir algo a partir dos cacos, perdendo-se no caminho.

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