Jericó, o Infinito Vôo dos Dias: Crítica AdoroCinema

Julgando por este projeto, a cidade colombiana Jericó é um lugar bastante alegre. As casas são coloridas, as mulheres idosas têm muitas histórias a contar, os comércios recebem seus clientes de braços abertos. Isso basta para fazer um documentário sobre o local? A diretora Catalina Mesa acredita que sim. Em enxutos 77 minutos, ela escuta uma série de habitantes do sexo feminino a respeito de suas receitas preferidas, seus amores de juventude, suas santas de devoção.

Jericó, o Infinito Voo dos Dias começa e termina no mesmo nível de observação. Como uma turista, a cineasta capta os elementos de destaque e dá o trabalho por encerrado. Falta ao resultado um direcionamento: o que Mesa pretende transmitir através destas conversas agradáveis, mas perfeitamente banais? A possibilidade da alegria na terceira idade? Algo sobre o espírito feminino? O discurso fica perdido diante do maravilhamento. A diretora observa as pessoas de Jericó com a superficialidade de quem admira a paisagem e constata sua óbvia beleza.

Além disso, o documentário lembra um vídeo institucional sobre Jericó, com direito a planos de detalhes nas placas dos principais comércios, música alegre dominando cada final de cena e alguns efeitos intrusivos - uma câmera lenta aqui, algumas imagens deslizadas acolá - que beiram o amadorismo. Munida de pouco aparato cinematográfico, Mesa deixa que a luz fique superexposta e a montagem apenas acompanhe a linearidade dos relatos. A orquestração acadêmica das imagens sabota qualquer ambição estética ou comunicação dialética entre os depoimentos.

Havia, portanto, material suficiente para um direcionamento temático e ideológico. A questão religiosa aparece em várias falas, assim como as desilusões amorosas, ou ainda o papel da fraternidade feminina em períodos de adversidade. Fossem costurados juntos, contrastados ou somados uns aos outros, constituindo um eixo principal, esses trechos poderiam fornecer uma ideia metonímica da comunidade local. A premissa do olhar unicamente feminino e idoso também possui seu valor intrínseco, limitado porém ao nível das boas intenções.

Entenda-se: não há mal algum em optar por uma abordagem simples, naturalista, assim como é possível construir um projeto em torno de conceitos vagos, ainda que importantes, sobre a persistência do amor e da felicidade. O problema é a ingenuidade diante do material filmado, a ausência de investigação e de construção para além do cartão postal. O espectador termina o filme sem conhecer Jericó, afinal, qualquer comunidade é composta por muito mais que a cor de suas fachadas e suas receitas mais famosas.