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    Normandia Nua
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Normandia Nua

    Um choque coletivo

    por Barbara Demerov

    Quando Georges Balbuzard, prefeito de uma pequena cidade na região da Normandia, precisa lidar com uma grave crise relacionada aos agricultores, a chegada de um renomado fotógrafo o faz ver a luz no fim do túnel. Ou quase. O que Georges descobre posteriormente é que o fotógrafo Blake Newman é um profissional em registrar a nudez das pessoas. Assim que Blake nota um belo campo próximo a cidade, ele decide que aquele é o local perfeito para sua nova foto. Com a ajuda do prefeito, o profissional precisa convencer a pacata (e tradicional) população a tirar as roupas. Para Georges, essa missão torna-se empolgante por ser uma chance do mundo, literalmente, ver a Normandia do jeito que ela é.

    Mas os problemas que envolvem a queda no preço da carne e do leite vão além da política, deixando todos os moradores com os nervos à flor da pele. Aliado à falta de atenção da mídia francesa para a crise, nem mesmo protestos em estradas ganham força para uma solução. Diante desse impasse, a graça de Normandia Nua se encontra justamente na dificuldade do prefeito em persuadir a cidade a posar nua. A maioria está mais preocupada com questões mais sérias como a falta de dinheiro – e, apesar de algumas pessoas já se demonstrarem favoráveis ao projeto inusitado, elas imediatamente são repreendidas por tal ideia.

    O prefeito Georges atua muito mais como um pai de todos os cidadãos do que um prefeito de fato. Preocupado com o bem estar de todos, ele praticamente vai de porta em porta para disseminar a intenção de que esta não é só uma foto de pessoas nuas, mas sim uma foto que mostrará quem e onde eles estão. No entanto, nada do que diz é o suficiente para boa parte da cidade, e a repetição de seu discurso faz com que o filme vá se tornando um tanto quanto raso, apesar de sua proposta ser bem diferente e original.

    Simultaneamente ao projeto, o filme apresenta diversas histórias que narram as questões mais íntimas dos personagens – especialmente discussões e brigas pela posse de um antigo campo (ironicamente, o mesmo escolhido pelo fotógrafo para o retrato). Há coesão em contar essas histórias diferenciadas pelo fato da cidade, apesar de pequena, ser extremamente individualista e pouquíssimo unida. O conservadorismo grita em praticamente todo o momento, e só Georges tem a capacidade de pelo menos pará-los por alguns momentos a fim de explicar sua visão.

    Felizmente, aos poucos o senso de coletividade vai tomando conta de Normandia Nua. O projeto da foto torna-se coadjuvante perante às pequenas histórias paralelas, e seu intuito acaba por ser o de unir a cidade, não de torná-la mais incomodada com uma visão de fora (o fotógrafo é americano). Quando o prefeito começa a se aproximar mais de seus cidadãos, o fotógrafo vai se afastando; e isso mostra que sua missão foi muito mais do que escolher um local para registrar. O registro que acaba conquistando é o da colagem de peças, antes quebradas, que enfim voltam a se ajustar.

    Normandia Nua é um filme inusitado e cômico, com uma excentricidade cativante por conta de tantos personagens que emanam curiosidade. Por mais que uns sejam mais difíceis de compreender que outros, acompanhar a breve trajetória de cada indivíduo até próximo ao momento da aguardada foto é, no mínimo, interessante. A estrutura da obra perde-se em alguns momentos por tentar introduzir o máximo de background possível para cada um, mas é firme na mensagem de que a união, além de importante, é necessária para que exista algum avanço.

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