Um choque coletivo
por Barbara DemerovQuando Georges Balbuzard, prefeito de uma pequena cidade na região da Normandia, precisa lidar com uma grave crise relacionada aos agricultores, a chegada de um renomado fotógrafo o faz ver a luz no fim do túnel. Ou quase. O que Georges descobre posteriormente é que o fotógrafo Blake Newman é um profissional em registrar a nudez das pessoas. Assim que Blake nota um belo campo próximo a cidade, ele decide que aquele é o local perfeito para sua nova foto. Com a ajuda do prefeito, o profissional precisa convencer a pacata (e tradicional) população a tirar as roupas. Para Georges, essa missão torna-se empolgante por ser uma chance do mundo, literalmente, ver a Normandia do jeito que ela é.
Mas os problemas que envolvem a queda no preço da carne e do leite vão além da política, deixando todos os moradores com os nervos à flor da pele. Aliado à falta de atenção da mídia francesa para a crise, nem mesmo protestos em estradas ganham força para uma solução. Diante desse impasse, a graça de Normandia Nua se encontra justamente na dificuldade do prefeito em persuadir a cidade a posar nua. A maioria está mais preocupada com questões mais sérias como a falta de dinheiro – e, apesar de algumas pessoas já se demonstrarem favoráveis ao projeto inusitado, elas imediatamente são repreendidas por tal ideia.
O prefeito Georges atua muito mais como um pai de todos os cidadãos do que um prefeito de fato. Preocupado com o bem estar de todos, ele praticamente vai de porta em porta para disseminar a intenção de que esta não é só uma foto de pessoas nuas, mas sim uma foto que mostrará quem e onde eles estão. No entanto, nada do que diz é o suficiente para boa parte da cidade, e a repetição de seu discurso faz com que o filme vá se tornando um tanto quanto raso, apesar de sua proposta ser bem diferente e original.
Simultaneamente ao projeto, o filme apresenta diversas histórias que narram as questões mais íntimas dos personagens – especialmente discussões e brigas pela posse de um antigo campo (ironicamente, o mesmo escolhido pelo fotógrafo para o retrato). Há coesão em contar essas histórias diferenciadas pelo fato da cidade, apesar de pequena, ser extremamente individualista e pouquíssimo unida. O conservadorismo grita em praticamente todo o momento, e só Georges tem a capacidade de pelo menos pará-los por alguns momentos a fim de explicar sua visão.
Felizmente, aos poucos o senso de coletividade vai tomando conta de Normandia Nua. O projeto da foto torna-se coadjuvante perante às pequenas histórias paralelas, e seu intuito acaba por ser o de unir a cidade, não de torná-la mais incomodada com uma visão de fora (o fotógrafo é americano). Quando o prefeito começa a se aproximar mais de seus cidadãos, o fotógrafo vai se afastando; e isso mostra que sua missão foi muito mais do que escolher um local para registrar. O registro que acaba conquistando é o da colagem de peças, antes quebradas, que enfim voltam a se ajustar.
Normandia Nua é um filme inusitado e cômico, com uma excentricidade cativante por conta de tantos personagens que emanam curiosidade. Por mais que uns sejam mais difíceis de compreender que outros, acompanhar a breve trajetória de cada indivíduo até próximo ao momento da aguardada foto é, no mínimo, interessante. A estrutura da obra perde-se em alguns momentos por tentar introduzir o máximo de background possível para cada um, mas é firme na mensagem de que a união, além de importante, é necessária para que exista algum avanço.