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    Primeiro Ano
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Primeiro Ano

    O que vem antes do diploma

    por Barbara Demerov

    Quando vemos um médico exercendo sua profissão em qualquer âmbito com confiança e sabedoria, pensar nos diferentes tipos de pressão pelas quais ele passou até encontrar seu espaço pode ser algo difícil. Mas essa é justamente a intenção do diretor Thomas Lilti em Primeiro Ano: nos fazer pensar naquele médico adulto como um simples estudante, com todas suas dúvidas e receios. Aqui, a prioridade é apresentar mais o que vem antes do profissional vestir o jaleco e ganhar seu espaço no ramo da medicina. Ninguém nasce pronto, até mesmo os que aparentam estar.

    Ambientado quase que 100% do tempo dentro de ambiente escolar, o filme agradará facilmente qualquer pessoa que já passou pelo sistema acadêmico e se sentiu, pelo menos uma vez, intimidado pela pressão imposta - tanto interna quanto externa. Primeiro Ano é interessante justamente por apresentar as falhas deste sistema (como na ausência de auxílio psicológico) através da cobrança interna dos personagens, sobretudo da dupla Benjamin e Antoine. Um calouro e um veterano que já repetiu duas vezes no vestibular entram em sincronia na busca pela mesma ideia: seus nomes nas pontuações mais altas dentre os mais de 2000 alunos da escola. Suas principais companhias são apostilas, atualizadas ou não, que são entregues aos montes para as imensas filas de alunos. As noites mal dormidas e as refeições feitas na correria são só a ponta do iceberg, pois o que mais choca é a naturalidade com a qual professores e jovens lidam com o vestibular.

    Além de abordar muito bem essas questões que envolvem a pressão dos alunos, também há a apresentação de um ambiente tóxico e extremamente competitivo - que tem o poder de transformar amizades em relacionamentos negativos. Benjamin, o calouro, tem mais facilidade em entender como o sistema para entrar de vez na medicina funciona; enquanto Antoine segue alguns métodos já utilizados previamente para agarrar seu sonho. A amizade entre ambos, apesar de começar de maneira natural e fluir de modo mais natural ainda, acaba não se isentando dos riscos de uma competição – e é isso que torna Primeiro Ano tão real e universal. Os sentimentos dos jovens são transmitidos com tanta facilidade que tornam-se até palpáveis, e qualquer aluno (ou ex-aluno) sentirá empatia por cada um.

    Longe de ser focado na prática da medicina, o filme ganha fôlego nos locais que alavancam o conhecimento: bibliotecas, salas de aula, pátios do colégio – os mesmos locais em que a dupla de personagens passa a se conhecer melhor. A crítica ao sistema começa leve, mas se reflete fortemente justamente nos jovens: um é filho de médico e outro já é visto como repetente e incapacitado. A ironia que o roteiro insere é que Benjamin não sabe se realmente quer exercer a profissão, ao contrário de Antoine, cujo sonho acaba enfraquecendo-o de tão preocupado que fica em conseguir sua vaga.

    A partir desse ponto de vista, Primeiro Ano torna-se um filme sobre amizade – muito mais do que uma história sobre a tão renomada profissão. É a junção dos bastidores que não são muito comentados posteriormente pelos formandos (pois tal realidade insana é considerada normal) com uma lição sobre como a sinceridade para consigo mesmo importa. Profissionais da saúde não devem se importar somente com o próximo; eles devem começar por si mesmos e o longa, por mais rudimentar que seja em direção e montagem, transmite muito bem essa mensagem tão essencial.

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