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    Vidro
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    Vidro

    Humanizando o excepcional

    por Barbara Demerov

    À época do lançamento de Corpo FechadoM. Night Shyamalan foi aconselhado a não divulgar seu filme como uma história de super-herói. Hoje, o desfecho de sua trilogia conversa bastante com o atual cenário cinematográfico, repleto de diversos poderes e... heróis. Curiosamente, o pontapé inicial do universo particular que criou há quase duas décadas pode servir como um respiro em meio a tantos filmes baseados em quadrinhos. Shyamalan conseguiu uma proeza admirável por vias tortas: se ele retornou ao terror em Fragmentado, a principal façanha de Vidro é o diretor conseguir conversar com o público que consome tramas que visam o extraordinário – ao mesmo tempo em que subverte seu próprio modo de contar histórias por se concentrar nos conflitos internos dos protagonistas. Ainda assim, ele não foge da mesma abordagem vista no filme de 2000, que é frágil, trivial e, sobretudo, humana.

    De início, Vidro pode ser resumido como o filme que une Corpo Fechado com Fragmentado, mas há muito mais por trás de tal ideia. A condução dessas três histórias interligadas faz mais sentido do que se tudo estivesse presente apenas num filme, como era o plano inicial do cineasta. Juntas, elas possuem uma coerência ainda mais surpreendente por mesclarem diferentes gêneros: drama, suspense e terror – além da inovação vista no terceiro capítulo: um thriller super-heroico que, se analisado atentamente, incorpora todas as categorias citadas. Temos o suspense que paira no olhar de Mr. Glass (Samuel L. Jackson), o drama contido nas preocupações de David Dunn (Bruce Willis), assim como o terror (agora também interno) de Kevin Wendell Crumb (James McAvoy). Por unir os destaques dentro da construção dessa saga, é inegável afirmar que estamos diante do maior desafio da carreira de Shyamalan.

    Passado semanas após os eventos de Fragmentado e 15 anos após Corpo Fechado, Vidro tem basicamente apenas um local que move a trama: o hospital psiquiátrico da Filadélfia onde o trio é internado. David e Kevin (junto de suas 24 personalidades) entram no local ao mesmo tempo, mas Glass está ali há mais de uma década. O maior foco de Shyamalan é mostrar detalhadamente a rotina dos protagonistas, não sem antes situar o espectador com a atmosfera fora do local – especialmente a rotina de David como o herói encapuzado, trabalhando em conjunto com o filho Joseph (Spencer Treat). Após a internação, boa parte de Vidro se concentra na execução das particularidades técnicas do diretor (como nos enquadramentos diferenciados) e na construção do suspense via diálogos com a doutora Ellie Staple (Sarah Paulson). A pesquisa da médica tem como objetivo provar que nenhum deles possui poder algum, seja físico ou mental; e cabe ao trio continuar acreditando em si ou ouvirem os fatos que lhe são apresentados com tanto afinco.

    Consequentemente, a pesquisa de Staple ressoa também no espectador, que pode (ou não) duvidar dos feitos do trio na medida em que a personagem dá suas explicações. O ambiente tenso e desequilibrado começa a aparecer diante dessas dúvidas, mas o caminho até o clímax soa vagaroso. Enquanto a trama principal vai sendo costurada com a união gradativa de Glass, Kevin e David, Shyamalan sabe que o mais interessante é justamente a força do trio. McAvoy novamente rouba a cena com suas múltiplas atuações – muito por conta da direção, que lhe dá toda a liberdade e evita cortar as passagens de uma personalidade a outra, enquanto Willis e Jackson brilham com certo equilíbrio, ainda mais afetados pelo peso da ligação que possuem. Porém, sendo este o filme de Glass, sua presença é uma crescente, começando silenciosa e sobretudo no olhar. O personagem de Jackson atua como um roteirista que vai saindo das sombras para, enfim, trabalhar em sua grande e esperada obra.

    Ao mesmo tempo que tem como questionamento a crença e a importância de possui-la ou não, Vidro representa a forma de Shyamalan integrar o universo heroico ao seu modo. Sem precisar se basear em roteiros de HQ's, ele alcança o topo de uma criação feita exclusivamente para o audiovisual de modo original, mantendo-se na própria essência e utilizando-a como impulso. Suas escolhas narrativas condizem com a proposta de humanizar o incomum e sair da curva de 'filmes de herói' – especialmente no clímax, que une diferentes tons e personagens (como Casey Cooke, Joseph e a mãe de Mr. Glass) a fim de fechar uma história ligada por fatalidades e atos grandiosos, ainda que limitados aos olhos da sociedade.

    Dito tudo isso, a melhor parte deste filme ser um grande desafio é que o diretor não parece preso ao passado e nem ao peso do que concebeu. Ele se encontra bastante confortável ao inserir sua identidade em cada plano e cena, que são caprichadamente desiguais. Enquadramentos tortos, movimentos rápidos que vão de um personagem a outro, planos em primeira pessoa e também a câmera na mão podem parecer muitas escolhas de filmagem em um só longa, mas aqui são bem pensadas para "conversarem" com cada cena. A paleta de cores, que vai do roxo ao azul e do rosa ao amarelo, também ganha bastante destaque e serve como um breve aceno ao mundo dos quadrinhos.

    Há certa ironia de Shyamalan quando ele ameaça ir por um caminho que visa o espetáculo e, no último segundo, opta por outro rumo menos óbvio. Ele tem a consciência de que, apesar de hoje estar livre para se encaixar no gênero dominado por produções da Marvel e da DC, a identidade que tanto investiu nos últimos anos ultrapassa máscaras e capas.

    Vidro é o encontro de Shyamalan com ele mesmo da forma mais sincera e direta com o que estabelece em seus filmes: histórias de pessoas extraordinárias e comuns. Olhando para sua carreira como um todo, este é um filme que define a mente de quem está por trás das câmeras.

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    Comentários

    • Franklim c
      Gostei muito do filme, e me surpreendi com o bom desfecho, porque o Shiamalan tem um histórico tenso de filmes com final ruim. Bom filme!
    • Henrique Ventura
      Achei o filme muito bom! Um suspense que prendeu minha atenção do início ao fim. A ligação entre os três filmes e a ênfase que foi dada em cada vilão com seu lado humano e demostrando que todos são heróis da própria história fugindo do estereótipo Marvel e DC me surpreendeu. Tive sensações de angústia, incerteza e tristeza o tempo todo e por fim a sensação de alívio pela verdade vir átona.É um dos poucos casos que não concordo com a crítica que falou mal do filme.
    • elisa elisa
      e um ótimo filme, mas não do jeito que estamos acostumados, acrítica foi coerente em dizer que ele não segue estilo marvel e DC. Após algumas semanas chego a conclusão que esse filme seria uma prévia dos primeiros mutantes, ninguem sabe que existe mutantes, não existe um charles para guiá-los. nem eles sabem o que são.
    • mariah
      GENTE, esse filme é bom dms. É triste pq os personagens morrem no final, mas em geral, esse foi o melhor filme q eu assistir. Algumas pessoas estão muito ligados a Marvel e DC por isso querem que tds os filmes q tem heróis sejam totalmente fora da realidade.
    • Oscar Bernardino
      Bom filme, fechou a trilogia da forma certa, fugindo do óbvio e dos clichês o Diretor acertou em humanizar os personagens e não deixar fantasioso demais como os filmes de super heróis.
    • J.Carlos
      Se você ainda não assistiu o filme, não leia os comentários que estão infectados de spoiler sem aviso. Eu entrei aqui e desisti de assistir o filme.
    • J. Carlos
      Entrei aqui pra entender um pouco a filosofia do filme antes de assistir. Mas agora não rola mais.
    • J. Carlos
      Quando for assim é bom escrever: Alerta de spoiler no início do comentário. Somente uma sugestão.
    • Mário Santos Sousa
      Não é questão de final feliz e sim de filme chato. Muito tempo perdido com diálogos desnecessários, tentando convencer todos de algo que já sabíamos que não era verdade. Se eles não fossem super-heróis, não precisariam mecanismos de defesa nas selas, o que é uma grande contradição. Como a psicóloga quer convencê-los que eles não são o que são, colocando exatamente os elementos capazes de pará-los? Não faz o menor sentido. Os primeiros filmes são bons o último nem tanto. Além disso, você deveria aprender a respeitar a opinião dos outros sem agredir os demais. Fica a dica. Tenta ser um pouco mais maduro. No mundo não existe somente pessoas que concordam contigo. :D
    • Balrog do alpha3
      Ótimo texto, diferente dos acéfalos que postaram aqui.Idiotas acostumados com formatinho feliz de hollywood taxando o filme de ruim. Tudo corno ou mal comida
    • Balrog do alpha3
      Deixa de ser burro, quer ver final feliz vá ver novela da globo.Não entendeu a trama dos dois filmes, não entenderá o desfecho do terceiro
    • Balrog do alpha3
      Deixa de ser burro
    • Balrog do alpha3
      Deixa de ser burra
    • Thiago
      Que porra de filme foi esse. nós somos fãs dos filmes Corpo Fechado e fragmentado, estamos muito decepcionados, quem produziu esse filme bateu a cabeça ou estava doidão, sujou a imagem e a qualidade dos filmes anteriores. não sei como os personagens aceitarão a fazer parte de um filme tão fraco como esse.:(
    • Jackson Lovato
      As expectativas eram enormes quanto a esse filme e que acabam decepcionando de certo modo. Não é que seja ruim, mas trata-se de filme superestimado que deixa a desejar. James McAvoy com certeza o melhor em cena!
    • Nihil
      Simples, o herói tem que morrer pois se existe um super herói inevitavelmente existira um super vilão.
    • Civil
      Os 3 filmes são excepcionais, e traz uma realidade muito grande para o espectador, por isso ele esta sendo tão criticado. Um grande número de pessoas buscam o cinema como fuga da realidade, por isso a decepção com o ultimo filme que traz a morte dos protagonistas. Confesso que também fiquei triste com a morte dos personagens, cada qual tinham seus traumas e tristeza que o publico se identifica, porem não deixa de ser uma ótima trilogia. Parabéns a todos envolvidos no filme.
    • Garoto Pássaro
      assiste a porra do filme de novo mas dessa vez presta atenção no filme
    • Rodrigo
      Gostei de Corpo fechado e considero Fragmentado um excelente filme. Concordo que Vidro ficou um pouco abaixo das expectativas, a história poderia ter sido melhor trabalhada para poder fechar a trilogia de um forma mais épica. Mas sinceramente não entendo o porque de tantas criticas pesadas em cima desse filme, dizendo que é o pior filme que já viram na vida, achei de um exagero absurdo, mas enfim, gosto é gosto... só sei que fiquei curioso pra saber que tipo de filme esse pessoal considera bom.
    • klaus
      Interessante
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